A primeira vez que tive contato com a MTV foi no final de 1985, quando o irmão de um amigo voltou de 11 meses nos Estados Unidos com cerca de 30 fitas VHS com a programação do canal gravada ininterruptamente, com comerciais inclusive. No auge de meus 13 anos, e sabedor de que o canal existia, fiquei alucinado. Logo no dia 02 de Janeiro de 1988 me mudei para o Canadá (onde morei por um ano) e, novamente, encontrei a Music Television. Outro impacto, mas tão positivo quanto o primeiro. Tão verdade que adotei o hábito de gravar a programação 24 horas por dia, o que me rendeu mais de 60 fitas de VHS. Em 1990 me mudei para San Francisco, na ensolarada Califórnia, e mais uma vez, as VHS se amontoaram com a programação da MTV, num total de 75 (todas elas, inclusive aquelas que o irmão do meu amigo trouxe em 85, digitalizadas e transferidas para DVD's).
As cores, os sons, os vídeos, mas o que mais me chamou a atenção foi algo que não existe há anos: a diversidade de estilos. E essa mancada não se restringe somente à terra do Tio Sam. Hoje, o canal exibe, basicamente, dois tipos de artistas: a mistura de R&B/Hip-Hop/Rap e/ou o pop descartável dos "artistas" da Disney e afins. Outros estilos praticamente não existem no canal, o que é uma pena.
Tenho seqüências de vídeos que abrem com Def Leppard, passam para Roy Orbison, cortam então para Duran Duran, Lita Ford, Daryl Hall & John Oates, Damn Yankees, INXS, Poison, Lou Gramm, Whitesnake, George Michael, Deee Lite, Neneh Cherry e fecham com Travelling Wilburys. Você pode não curtir todos, mas não há como negar que havia diversidade, você nunca sabia o que viria em seguida. Hoje em dia, entretanto, poucas coisas são mais previsíveis e sofríveis do que a programação da MTV.
Logicamente, as flutuações no mercado tiveram influência decisiva nas mudanças, mas a que ponto? Isso mostra a estagnação do próprio universo musical, onde há uma avalanche de produtos - sim, produtos - vagamente diferentes, mas essencialmente iguais. Falem o que falar, mas os anos 80 foram a década onde mais estilos se faziam disponíveis e as gravadoras investiam nessa diversidade, e melhor ainda, o mercado absorvia tudo, da mais alta qualidade até o de gosto duvidoso. Ainda assim, havia escolha.
A MTV cobria desde o mainstream até o mais alternativo dos artistas, com uma programação bastante dinâmica e, muito importante, VJ's capacitados para o trabalho. Há muitos anos o que se prioriza é a beleza, e não o talento. Claro, o Brasil não é exceção nesse quesito. Isso sem contar que até os anos 90 haviam certos VJ's que realmente sabiam do que estavam falando, você podia sentir que o texto não era simplesmente decorado e, com uma pesquisa, acabava descobrindo que os caras trabalhavam em publicações musicais há alguns anos. Eu adoraria sentar com um desses VJ's atuais e falar sobre música...mesmo!!!
Enfim, desde o início desse texto estou curtindo meus DVD's da antiga MTV e lamentando cada vez mais o caminho escolhido para a emissora, mundo afora. Infelizmente, não vejo uma mudança no posicionamento do canal a longo prazo. Em uma época onde o revival 80's ainda é forte, e vem novamente exercendo influência em todas as frentes, não seria nada mal um revival dentro da MTV. E como dizia Sting no clássico vídeo para "Money For Nothing" do Dire Straits, "I want my MTV..."
Um comentário:
I am astonished by this amazing review. Very enriching and heartfelt - its like your writing your own biography!!!!!
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