Nunca escondi de ninguém minha predileção pelos Rolling Stones, pelos mais variados motivos. Há uns dias encontrei uma discussão iniciada pelo grande Kid Vinil a respeito desse assunto. A discussão acabou, mas o jornalista expôs, com ainda mais propriedade, suas opiniões, e como elas coincidem com as minhas, decidi trazer o artigo aos amigos da casa.
"Hoje eu volto ao assunto da coluna anterior e à pesquisa Beatles x Stones. Na semana passada fiz uma pergunta sobre a importância das duas bandas para a história do rock e teve gente que achou desnecessária e muito óbvia. Não acho. Talvez tenha faltado a minha opinião, pois sou mais Rolling Stones do que Beatles, pela simples razão da extensão da obra e a longevidade da banda.
Adoro os Beatles e sei que é quase unânimidade, mas já me questionei várias vezes sobre qual é a mais importante para mim. Os Stones têm motivos muito especiais para serem minha banda favorita. Quando eu era garoto, lembro que em 1968 entrei numa loja de discos perto da escola onde eu estudava e vi pela primeira vez a capa interna do álbum "Beggars Banquet" (O Banquete dos Mendigos).
Aquilo contrariava todo aquele "bom-mocismo" das capas dos Beatles, um bando de malucos caídos numa estranha sala de jantar. A música apresentada nesse banquete era mais estranha ainda para um beatlemaníaco acostumado com as harmonias e vocalizações certinhas de Lennon e McCartney. A dupla Jagger e Richards enlouquecia, virava o blues e a country music pelo avesso nesse Banquete dos Mendigos. Veio então 1969, o ano mais conturbado e agitado na carreira do grupo. Tudo começou com a tragédia, em julho de 1969, quando Brian Jones foi encontrado morto por afogamento na piscina de sua mansão na Inglaterra. Imediatamente a banda recrutou o guitarrista Mick Taylor como seu substituto (ex-John Mayall & Bluesbreakers)
No dia 5 de julho de 1969, dias depois da morte de Brian Jones, os Stones fizeram um show tributo e gratuito no Hyde Park, em Londres, já com Mick Taylor na guitarra. A partir daí a música dos Rolling Stones sofreria uma mudança drástica. O ano de 1969 foi um divisor de águas na carreira da banda. O blues, que já era uma marca registrada no trabalho deles, dessa vez deu uma nova cara e um novo direcionamento no som do grupo. Mick Taylor encarnava o blues branco dos ingleses como John Mayall e Alexis Korner, e trazia a maior contribuição da carreira dos Stones. Em Novembro de 1969, a banda lançou o clássico "Let It Bleed", considerado por muitos como um dos melhores álbuns da carreira dos Rolling Stones. Em uma pesquisa recente da revista inglesa UNCUT, o álbum "Let It Bleed" aparece como o segundo melhor disco de 1969, só perde para "Abbey Road", dos Beatles (veja a pesquisa aqui).
Em novembro de 1969, os Rolling Stones partiram para uma excursão pelos Estados Unidos com Ike & Tina Turner, B.B. King, Terry Reid e Chuck Berry, fazendo shows de abertura durante a turnê. Nos dias 27 e 28 de novembro de 1969, os Stones se apresentam no Madison Square Garden, em Nova Iorque. Essa apresentação gerou um dos mais importantes álbuns ao vivo da história do rock "Get Yer Ya-Ya´s Out!", lançado em setembro de 1970. Na época, o crítico Lester Bangs, da revista norte-americana Rolling Stone, disse: "Não tenho dúvidas de que esse é melhor concerto de rock já editado em disco". O título estranho foi tirado de uma letra do bluesman Blind Boy Fuller. A capa era divertida e trazia um burrinho carregando bateria e guitarra, com um binóculo pendurado no pescoço ao lado do baterista Charlie Watts pulando, empunhando guitarra e baixo e ainda usando um chapéu de Tio Sam. Dizem que a idéia dessa capa surgiu da letra de uma música de Bob Dylan chamada "Visions of Johanna".
Para minha felicidade de fã dos Stones, em novembro sairá uma caixa comemorativa dos 40 anos desse memorável concerto do grupo, contendo 3 CDs, com o show na íntegra e ainda algumas das apresentações de Ike & Tina Turner e B.B. King nos shows de abertura. Tem ainda um DVD de gravações ao vivo desses shows, além de um livro de 56 páginas.
Como eu disse, 1969 foi o ano mais agitado na carreira dos Stones. No dia 6 de dezembro daquele mesmo ano, a banda fez um show gratuito dos no autódromo de Altamont, na California (EUA). Esse show tinha tudo pra ser um evento tão importante quanto Woodstock, mas terminou com uma tragédia, que marcou para sempre a carreira dos Rolling Stones. Durante a apresentação, um jovem negro foi assassinado a facadas na plateia pelo grupo de motociclistas da Hell's Angels, que fazia a segurança do evento. O tumulto foi muito grande, quase 300 mil pessoas fora do controle. Nesse concerto também se apresentaram Santana, Jefferson Airplane, The Flying Burrito Brothers e Crosby, Stills & Nash.
Tudo isso pode ser conferido no documentário "Gimme Shelter", lançado em 1970, que cobre essa trágica turnê norte-americana dos Stones. Considerado um dos melhores documentários da história do rock, "Gimme Shelter" será relançado no final deste mês, em uma edição especial com um livreto de 36 páginas, com fotos e dados históricos. Não só sobre a carreira dos Rolling Stones, mas sobre a agitação do rock'n'roll em 1969.
Mas nada disso abalou a carreira dos Rolling Stones. Em 1971, eles vieram com o álbum "Sticky Fingers" (foto), com uma das capas mais criativas do rock, assinada por Andy Warhol. Em 1972 outra obra-prima, o álbum "Exile On Main Street". A década de 70 também foi tumultuada e cercada de discos clássicos dos Stones. Em 1976, com a saída de Mick Taylor, mais uma vez a música dos Stones ganha uma nova cara com a entrada do ex-Faces, Ron Wood. Daí para frente, os Stones começam a flertar com Motown, soul music e misturar com blues. E a história continua até os dias de hoje, cerca de 40 discos lançados e muitas fases diferentes nas mais variadas incursões musicais. É por essas e outras que eu sou mais Rolling Stones!"
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