Eu odeio carnaval. Nunca curti a festa em si, mas sim a aglomeração feminina que o evento gera. Já tive minha época de noitadas carnavalescas regadas a cerveja e...bom, deixa prá lá. Há anos me refugio em algum lugar onde essa praga não chegue (ou onde o impacto seja menor). Me encontro em Balneário Camboriú (SC) e o local me serve de refúgio da folia há alguns anos. Navegando pela web encontrei um texto muito bacana do Doctor Robert - publicado no Whiplash - e que reproduzo aos amigos:
"Toda vez que o carnaval se aproxima, eu me recordo de um professor mal humorado que tive na faculdade, que detesta a festa mais popular do Brasil. Certa vez ele disse na sala de aula: “Eu odeio carnaval! Enquanto não acabarem com isso o Brasil não vai pra frente... Alguém aí já ouviu falar de Motörhead? Um bando de cabeludos, feios e barulhentos? Tinha que colocar eles pra tocar no trio elétrico de Salvador e dar um fim nisso...”. Imagine a cena: Lemmy e cia. em cima de um trio, no calor de Salvador, estourando os falantes com “Iron Fist”?
E que tal irmos mais adiante nessa viagem, imaginando um “universo paralelo” onde o trio elétrico ao invés de ter sido criado por Dodo e Osmar tivesse como pais Chuck Berry e Elvis Presley, e a música baiana fosse ouvida por uma minoria de cabeludos com camisetas pretas do Olodum, Timbalada, Banda Eva e garotas com shortinhos deixando a bunda de fora?
Você já se imaginou debatendo num fórum de um site chamado “Pombo Correio” (ao invés do Whiplash) qual o maior hino que Carlinhos Brown já concebeu? “Bebeu Água? Tá com sede?” ou “Vai buscar Dalila ligeiro...”? Isso sem falar que haveriam muitos pais e mães que proibiriam seus filhos de ouvir os discos daquele maluco baiano, porque acreditariam que ele tem pacto com o demônio.
Como seria um debate pra escolher a maior vocalista do mundo? Ivete e Claudinha Leite dividiriam os votos dos internautas, mas com certeza haveria os “puristas”, que prefeririam as vozes clássicas de Daniela Mercury ou Margareth Menezes.
E a tour do G3? Quem dividiria o palco? Robertinho do Recife, Pepeu Gomes e Durval Lelis, do Asa de Águia, divulgando seu álbum solo? Isso sem falar que haveriam bandas e mais bandas dos mais variados estilos, como samba progressivo, frevo melódico, speed axé...
Já do outro lado da moeda, o Fantástico promoveria aos domingos um grande concurso de “Hinos do Metal”, ao invés do Concurso de marchinhas. As escolas do Rio de Janeiro e São Paulo exibiriam em sua sessão rítmica uma pá de guitarristas virtuosos acompanhados de orquestras sinfônicas, onde os jurados votariam qual foi melhor no quesito “virtuosismo e variedade de escalas”. Dá até pra imaginar Joe Satriani comentando ao lado do Cléber Machado: “a escola tal tem uma boa harmonia, mas abusou muito das pentatônicas, e isso pode custar alguns pontinhos na apuração de quarta-feira”.
Na TV, assistiríamos a um seriado chamado “Heavy Metal Thunder” ao invés de “Ó Paí Ó”, onde o cenário deixaria de ser o Pelourinho e a ação se passaria em uma Birmingham industrial na Inglaterra, cujo personagem principal seria um jovem dislexo de apelido Ozzy contando suas aventuras ao tentar montar uma banda.
Ah sim, é claro, os trios elétricos mais disputados de Salvador seriam os do Motörhead, do Slayer e do Sepultura. Ao invés do abadá, a multidão teria que trajar uma jaqueta preta de couro e coturnos. Ao invés de pulserinha vip, um spike cheio de tachinhas no punho. E ao invés de assistirmos ao tradicional desfile de fantasias de plumas e paetês nos canais de TV de menos audiência, teríamos um concurso de “Corpse Paintings”, cujos comentaristas seriam Alice Cooper, Paul Stanley e Gene Simmons.
E se o mundo fosse assim? Um lugar onde fosse normal um homem usar cabelo comprido sem ser discriminado, onde você pudesse fazer quantas tatuagens você bem entendesse, mas ao mesmo tempo seria um horror ligar a TV e dar de cara com um bando de malandros “cantando” para mulheres seminuas sambarem? Um lugar onde estivesse tudo bem se as crianças ouvissem e cantassem “The Number Of The Beast” ao invés de usar trajes minúsculos e aprendessem coreografias sentadas na boquinha da garrafa ou, Deus nos livre, o tal do Créu?
Quem sabe assim seríamos vistos com outros olhos quando alguém entrasse no nosso carro pra pegar uma carona e estivesse rolando “Holy Wars” no som, ao invés do previsível “Você ouve ISSO?”. Quem sabe tal reação não se inverteria, e ao ouvirmos alguém cantarolando “Dança da Manivela” pudéssemos ficar indignados e ter o apoio da maioria...
Mas também poderia ser pior... Quem sabe nós rockeiros é que faríamos parte da minoria neste universo paralelo e estaríamos aí aguardando ansiosos pela turnê de reunião da banda Cheiro de Amor, enquanto o restante da população nos indagaria com os dedos indicadores em riste: “Você teve coragem de pagar 300 reais pra ir ver um show desses?”.
P.S.: brincadeiras à parte, quem gosta de carnaval que não de curtir a festa, sem preconceitos... eu, particularmente, prefiro continuar quietinho aqui em casa, ouvindo Pink Floyd, descansando a cabeça e relaxando nestes quatro dias de feriadão..."
3 comentários:
Ótima postagem! Um dos melhores textos sobre esses malditos cinco dias de Fevereiro! Parabéns!!!
O texto do Doctor Robert é muito divertido mesmo, Daniele. Fico feliz que tenha curtido. Bom "carnaval' prá você...hehehe
Rock on..
Interesting and funny at the same time
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