É, meus caros, a primeira entrevista concedida por um membro do FM para a América Latina rolou aqui na AORWatchTower. O simpático baterista Pete Jupp (foto) respondeu uma série de 23 perguntas sobre a carreira da banda de maneira descontraída em meio a uma maratona de entrevistas que os membros da banda vem enfrentando por causa de "Metropolis", que chega às lojas no próximo dia 29.
Deixo aqui um agradecimento à sempre atenciosa e simpática Lidia Samson, responsável pelo site oficial da banda, e obviamente ao grande Pete Jupp pela atenção e cordialidade. Divirtam-se...
AWW: Essa é a sua primeira entrevista para um blog/website brasileiro? Pergunto isso porque não me recordo de ter lido nada sobre vocês que já não tivesse sido postado anteriormente em algum site estrangeiro...
PJ: Até onde eu sei esta é a nossa primeira entrevista para a América do Sul e agradeço seu interesse na banda, em nossa música e por mostrar o que o FM tem a dizer.
AWW: Ok, vamos começar: "Indiscreet" é tido como um clássico do AOR, e é, na verdade. É um álbum coeso e tem uma sonoridade particular; acho que é o trio guitarra/bateria/teclados que funciona perfeitamente em todas as canções. E o álbum gerou alguns clássicos como “That Girl”, “Face To Face” e "Frozen Heart”. Olhando para trás, vocês imaginavam que "Indiscreet" se tornaria esse clássico?
PJ: É muito legal que "Indiscreet" seja considerado um clássico do AOR. Obviamente quando o gravamos não imaginávamos que as pessoas pensariam no álbum dessa maneira mas estamos muito, muito felizes em aceitar a acolhida dos fãs. Queríamos fazer um álbum cheio de grandes canções e acredito que atingimos o objetivo.
AWW: Pessoalmente eu acho que o excelente "Tough It Out" tem uma sonoridade toda americana, onde as guitarras dominam a cena e os teclados são mais discretos. E a colaboração com Desmond Child foi essencial, mas haviam outros grandes artistas americanos que participaram do álbum, como Terry Brock e Robin Beck. Como foi a transição daquela sonoridade tipicamente britânica para o American Radio AOR que é tão evidente em canções como “Bad Luck”, “Someday”, “Everytime I Think Of You” e “Tough It Out”, por exemplo? Estou muito longe da verdade com essa opinião? Hahahaha...
PJ: Eu acho que a escolha do produtor Neil Kernon teve algo a ver com isso, já a colaboração com Desmond, definitivamente. Robin Beck tinha o single #1 no Reino Unido na época e Neil era amigo dela e perguntou se ela gostaria de gravar alguns backing vocals e ela aceitou. Também conhecemos Terry através de Neil e acabamos o hospedando enquanto ele estava na Inglaterra, já que sua banda Strangeways não pagaria sua estadia, isso era o mínimo que poderíamos fazer. Nos divertimos muito com ele e ele é um vocalista fantástico. Ainda, Nigel Green mixou o álbum e fez um trabalho absolutamente brilhante e tendo trabalhado com Mutt Lange nos álbuns do Def Leppard ele teve grandes sacadas sobre a sonoridade do álbum.
AWW: Depois desse álbum Chris Overland deixou a banda. Acredito ter sido um choque para vocês, ou já sabiam que ele sairia? E por que ele saiu enquanto a popularidade da banda crescia?
PJ: Depois da tour de "Tough It Out" Chris estava cansado de ficar longe de sua família por longos períodos. Na verdade ele anunciou sua saída quando começávamos a escrever as canções para "Takin' It To The Streets". Naquela época fui surpreendido por sua decisão, eu não podia acreditar. Mas todos nós respeitamos suas razões. E lhe desejamos o melhor.
AWW: Continuando, eu confesso que me surpreendi com "Takin’ It To The Streets" de uma maneira boa, lógico. Me parece um álbum mais centrado nas guitarras, ao contrário dos álbuns anteriores que tinham mais Didge Digital, apesar de ele estar lá. Essa mistura entre AOR e Melodic Rock foi trazido por Andy Barnett ou era algo que vocês já planejavam e a chegada de Barnett foi apenas uma coincidência?
PJ: Não foi uma decisão consciente mas com um novo guitarris a banda soaria diferente. Andy também era mais do tipo guitar hero do que Chris jamais foi. Então esse pode ter sido outro fator...
AWW: Vocês não costumam gravar canções de outros artistas, mas sua versão para "I Heard It Through The Grapevine" é monstruosa! Tenho certeza de que Marvin Gaye teria gostado...bem, pelo menos eu gostei...hahaha
PJ: Quando nos reunimos nos ensaios pensamos que era uma versão arrasadora. Também foi a primeira vez que usamos uma seção de metais de verdade em estúdio, e eles fizeram um trabalho fantástico.Pelo que me lembro gravamos o baixo e bateria e quando voltamos no dia seguinte Andy já tinha escrito e gravado o riff da introdução que nos impressionou quando ouvimos. Marvin Gaye teria gostado? Espero que sim, pois é uma grande canção e não poderíamos tê-la melhorado, por isso tentamos dar um tratamento diferente.
AWW: E "Only The Strong Survive", que balada! Uma das minhas canções preferidas do FM...
PJ: “Only The Strong Survive" meio que resume nossa filosofia em relação a vida, equanto banda. Ela nasceu como "Walk On Water" mas nunca gostamos do refrão e a reescrevemos. "Only The Strong Survive" foi o resultado. Fico feliz que a tenhamos mudado.
AWW: E então chegou "Aphrodisiac"...cara, o que posso dizer? É meu álbum favorito do FM em todo o catálogo. Bluesy melodic rock arrasador (onde os vocais de Steve se encaixam perfeitamente) e uma sonoridade crua que fazem com que as cançções soem mais orgânicas (seja lá o que isso signifique) e canções como "Breathe Fire", "All Or Nothing", "Closer To Heaven" e "Blood And Gasoline" são exemplos disso. Apesar de as melodias serem puro FM, o approach era mais direcionado ao melodic rock e os fãs adoraram. Você acha que que a banda mudou de direção - do AOR mais tradicional para o Melodic Rock - na hora certa?
PJ: Eu acho que estávamos nos desenvolvendo como banda e experimentando novas idéias. Não foi uma decisão pensada, apenas aconteceu. Me perguntam muito qual o meu álbum preferido do FM e se tivesse que responder agora diria "Aphrodisiac" seguido de perto por "Tough It Out".
AWW: E haviam nomes familiares colaborando: Leigh Matty, Craig Joiner e Tony Mittman (da Romeo’s Daughter) participaram das gravações. Como foi para vocês trabalharem todos juntos? Foi Merv quem os trouxe? Hahaha... (Nota: Merv Goldsworthy, baixista do FM é casado com Leigh Matty, vocalista da Romeo's Daughter)
PJ: Os "Romeos" são um grupo talentoso e foi ótimo trabalhar com eles. Tony Mittman tocou teclados no álbum e durante a tour depois que Didge saiu da banda; ele é um ótimo tecladista e uma pessoa divertida de se ter por perto. Leigh e Craig fizeram backing vocals e tenho certeza de que foi Merv quem organizou tudo.
AWW: Vocês não gravaram muitas covers até que em 1993 "No Electricity Required" (chamado de "Live Acoustical Intercourse" no Japão) mudou isso. Muitos clássicos do rock misturados com material original do FM, compondo um excelente show do qual eu curto muito os medleys (especialmente o que inclui "Face To Face", a introdução de "Enter Sandman" do Metallica com "American Girls" e "Other Side Of Midnight"). Um desses shows foi gravado e lançado em VHS. Há planos para lançar esse material em DVD?
PJ: Nós adoraríamos lançar "No Electricity Required" em DVD mas não encontramos as fitas master, nós não sabemos com quem elas estão. Já pensamos em copiar direto do VHS mas achamos que a qualidade não seria boa, o que é uma pena. Se encontrarmos as fitas originais nós lançaremos em DVD.
AWW: Vocês também tem alguns vídeos e há boatos de que até mesmo alguns shows gravados. Há alguma chance de que isso seja lançado em DVD?
PJ: Todos os vídeos e shows gravados pertencem a empresas diferentes, o que torna muito difícil o lançamento oficial de nossa parte. Temos um projeto que está em desenvolvimento e que envolve muito material antigo, vídeos gravados pelo próprios membros da banda, entrevistas, etc... . Achamos que pode ser material do tipo "The Story Of FM" mas dá muito trabalho, mas ainda assim esperamos que isso seja lançado em breve.
AWW: O álbum “Dead Man’s Shoes” nos apresentou Jem Davis. Onde vocês o encontaram?
PJ: Nós fizemos alguns shows com o UFO e Jem tocava com eles. Depois da tour perguntamos se ele gostaria de juntar-se a nós, e ficamos felizes que ele tenha aceitado a oferta.
AWW: Apesar do álbum não ter causado grande impacto, há excelentes cançõescomo a balada "You’re The One" (que soa muito como o material de "Aphrodisiac"), a radio-friendly "Tattoo Needle" e a poderosa versão para "Get Ready" - dos Temptations - , um dos destaques do álbum. E esse seria o início de um hiato de 13 anos para o FM. O que levou a banda a tirar essas férias ?
PJ: As gravações de "Dead Man's Shoes" foram uma batalha. Nós tínhamos um orçamento muito limitado. Nós conseguimos lançar o álbum mas foi uma luta e uma experiência traumatizante. Eu acho que foram escritas grandes canções mas a maneira com que elas foram gravadas não lhes fazem justiça, o que é uma pena. Estava ficando difícil manter a banda unida, o cenário musical havia mudado com a chegada do 'grunge' e decidimos encerrar as atividades.
AWW: Apesar de a banda estar sumida, ainda houveram lançamentos para os fãs, coletâneas em sua maioria e alguns re-lançamentos de álbuns com bonus tracks, mas eu destacaria "Paraphernalia", originalmente lançado no Japão em 1996 (mas lançado no boxset "Long Time No See", em 2003) com algumas das canções mais bacanas do FM que já ouvi. A maioria daquelas canções é das sessões do álbum "Aphrodisiac"? Porque soam como se fossem...
PJ: "Paraphernalia" foi lançado por obrigação contratual no Japão, mas acabou lançado no boxset que você mencionou acima. Acho que a maioria das canções eram sobras de vários álbuns mas não sei exatamente quais canções vieram de quais álbuns, eu lamento...
AWW: O FM recusou vários convites dos organizadores do Firefest para fazerem parte do lineup do festival, até que em 2007 vocês decidiram arriscar. O que fez com que a banda aceitasse o convite naquela ocasião?
PJ: Nós fomos convidados várias vezes pelos organizadores do Firefest ao longo dos anos para aparticiparmos do festival e recusamos todas elas. Quando Kieran (Dargan, um dos responsáveis pelo festival) nos ligou no final de 2006, nós conversamos e decidimos que era um momento decisivo e aceitamos o convite para 2007. E fico feliz que tenhamos feito. Nós honestamente pensávamos que se 400 pessoas comprassem ingressos para nos assistirem já seria ótimo, então imagine nossa surpresa quando subimos ao palco e nos deparamos com 1.500 fanáticos pelo FM de todos os cantos do mundo e que cantaram absolutamente todas as letras de todas as canções. Foi uma experiência muito emocionante para nós e admito ter lágrimas nos olhos em alguns momentos. O amor dos fãs depois de tanto tempo ainda era incrível, foi uma noite maravilhosa e amamos cada minuto dela.
AWW: O CD/DVD "Back In The Saddle" é fantástico e a emoção vinda da platéia é quase tangível. O show foi o momento decisivo em que você pensaram "ok, nós temos que reunir a banda novamente" ?
PJ: Nós realmente não tínhamos nada planejado para além daquele show, mas a reação do público nos deixou sem fôlego. Ficamos impressionados que depois de tantos anos os fãs ainda gostavam de nossas músicas. Nós achamos de devíamos à eles um novo álbum pela lealdade que eles haviam nos mostrado. Provavelmente, essa foi uma das decisões maia fáceis que tomamos.
AWW: E agora temos "Metropolis" (foto), um dos álbuns mais aguardados de 2010. A julgar pelas teasers, o álbum será uma mistura das melodias clássicas do FM com um approach melodic rock mais contemporâneo, e isso é até óbvio. Mas a sonoridade me lembrou muito o material do Shadowman e até mesmo do The Ladder. Estou certo ou só confuso? Hahahaha
PJ: Bem, há membros do FM nos dois projetos então acho que haverão influências. O FM não lança um álbum em 15 anos e a maneira como os álbuns soam hoje é bem diferente dos anos 80 e 90. Quando escrevemos as canções para "Metropolis" estávamos concentrados em captar os melhores elementos dos álbuns do FM e não de nossos projetos, então, respondendo sua pergunta sobre estar confuso, eu tenho que dizer que você está...hehehe :)
AWW: E há outro novato no FM: Jim Kirkpatrick assumiu as guitarras e pelo que ouvi o cara é muito bom. Como ele chegou à banda?
PJ: Steve tinha trabalhado com Jim em alguns projetos e achou que ele seria o substituto ideal. Jim é um guitarrista fantástico, e ele gosta a maneira como Chris Overland tocava e está feliz por reproduzir os solos dele, e acha que se encaixa perfeitamente às canções. Andy, por outro lado, se recusava a tocar algumas canções dos primeiros álbuns. Somente depois que Jim juntou-se à banda pudemos ressuscitar canções anteriores a Andy e incluí-las no set como "American Girls" e "Dangerous", já que Jim realmente queria tocá-las.
AWW: O cenário AOR/Melodic Rock é muito forte na Europa e no Japãp, e agora está tentando retornar aos U.S.A. . Você acha que esse é o mercado a ser dominados para que o AOR/Melodic Rock se fortaleça novamente, como era em meados dos anos 80 e início dos anos 90?
PJ: Os U.S.A. são um grande mercado mas não sei muita coisa sobre ele, para ser sincero. Eu acho que depende muito das rádios tocarem esse gênero musical e conseguirmos o apoio delas novamente. Nós nunca fizemos um show sequer nos U.S.A. e é muito difícil para mim dar uma resposta com base em dados à sua pergunta.
AWW: Ultimamante há muitas bandas/artistas retomando suas carreiras. Recentemente, o Strangeways anunciou seu retorno e começarão a gravar para um novo álbum logo depois do FireFest 2010 e no final do ano passado, a Romeo’s Daughter anunciou que também retomará a carreira. Os grandes nomes estão voltando para mostrar à nova geração como é que se faz ?
PJ: Eu acho que as platéias para nós estão aumentando, e para as novas bandas também, então porque não tentar? É muito bom tê-los de volta, ambas são grandes bandas.
AWW: O que você tem ouvido ultimamente? Há tantas bandas no cenário que é até difícil acompanhar todas. E há ótimos lançamentos quase que mensalmente...
PJ: Eu ouço todo tipo de música do rcok ao rap e tudo o que fica entre eles. Acho saudável ter um gosto musical variado e não ser bitolado em uma coisa só. Há bom e ruim em cada estilo musical e o que eu considero bom você pode considerar ruim. É interessante como músicas diferentes tocam pessoas diferentes. Eu tenho um amigo que ama The Smiths e Morrisey - pessoalmente não sou fã, mas entendo porque ele curte, apenas não me serve.
AWW: Pirataria é um assunto que não pode ser deixado de lado quando música é o assunto principal. Qual a sua opinião sobre a indústria fonográfica em si, quero dizer, você consegue ver a vitória dessa indústria na guerra contra aqueles que compartilham arquivos na internet?
PJ: É claro que a internet é uma ferramenta fantástica para as bandas se manterem em contato com seus fãs da maneira como hoje fazem. Nós adotamos o conceito de corações abertos quando nos inscrevemos em páginas como Facebook, Myspace e Twitter. Infelizmente, a pirataria sempre esteve aí, as pessoas já copiavam músicas em fitas cassete. É que agora você pode, literalmente, conseguir o que quiser com poucos clicks no seu mouse e com qualidade muito melhor. Sabemos que algum material nosso acabou em sites de torrent mas nossos fãs denunciaram e os álbuns foram retirados. Não consigo pensar em uma resposta, acho que vai da consciência de cada um.
AWW: O Brasil faz parte do roteiro AOR/Melodic Rock. Já tivemos muitos shows por aqui, de gente como Ted Poley, Tyketto, House Of Lords, Jimi Jamison e Jeff Scott Soto (visitante regular por aqui), entre muitos outros. Que tal um show do FM para os fãs brasileiros???
PJ: Eu adoraria ir ao Brasil, é um país que sempre quis conhecer. Meu sobrinho e sua namorada passaram a maior parte do ano passado viajando pela América do Sul e eles amaram. Se tiver contatos, por favor me envie...hehehe.
AWW: Bem, eu gostaria de lhe agradecer o tempo e paciência em responder todas essas perguntas. Mais uma vez, como fã do FM essa entrevista foi muito especial e tenho certeza de que os leitores do blog ficaram felizes em ler essa matéria. Eu sinceramente lhe desejo o melhor, e ainda mais sucesso e vida longa ao FM.
PJ: Muito obrigado. Foi um prazer falar com você e deixo minhas saudações à nossos fãs no Brasil e na América do Sul. Deus os abençoe!!!
3 comentários:
A good interview, though I felt there was little information on their upcoming album.
Job well done Juliano!!!
Actually, there's a whole lotta information on the upcoming album scattered on the blog, and since I've been talking tirelessly about it it'd sound redundant to cover it once again. Besides, the interview was about FM's history and not only about "Metropolis".
And there's more to come on FM. Just wait :)
Your right!!!!! and I can't wait!!!
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