Transcrevo, a seguir, texto do jornalista Regis Tadeu (foto), originalmente publicado em sua coluna no Yahoo. Texto muito bacana e que deveria ser lido por muita gente que esqueceu o fato de não ter nascido famoso, e certamente, não se lembra mais de onde veio e muito menos que já foi fã de alguém.
Com a enxurrada de shows que tivemos – e ainda vamos ter – este ano no Brasil, penso ser hoje uma oportunidade bacana para abordar um tema que os músicos em geral costumam esquecer na hora de construir suas respectivas carreiras: respeito pessoal para com os fãs e profissionalismo.
Há muito tempo venho batendo na tecla de que não basta conhecer todas as notas e escalas musicais, ser um instrumentista mais rápido que o Papa-Léguas, ter cabelos e roupas bacanas, fazer caras e bocas, e até mesmo compor músicas interessantes, se o candidato a astro não for proprietário das duas características que citei no parágrafo anterior e mais uma, esta inerente ao seu esforço pessoal: carisma. Como carisma é algo que não se aprende na escola – ou você tem ou não – e eu mesmo não sou lá dotado de tal dádiva (tenho tanto carisma quanto um bode velho, que não necessariamente precisa estar vivo), vou me ater aos dois tópicos restantes, com a intenção de mostrar a você que nada acontece por acaso.
Em minha carreira como editor de algumas publicações voltadas ao universo dos instrumentistas, já tive a oportunidade de tomar contato com toda sorte de artista: o bacana, o “mala”, o egocêntrico, o humilde, o maluco, aquele que deveria estar vendendo cartelas da Telesena em vez de tocar um instrumento, o resignado, o gênio, o impostor… É inacreditável a galeria de figuras que habitam o meio musical, algo muito parecido com um imenso zoológico, tal a diversidade de espécies encontrada.
Na verdade, são essas pessoas que recebem toda a idolatria dos fãs, mas que nem sempre devolvem tamanha atenção na mesma proporção – aliás, já escrevi a respeito disso em outras ocasiões. Você ficaria surpreso com as atitudes arrogantes que, muitas vezes, os artistas demonstram para com os seus admiradores, principalmente quando estão na segurança de seus quartos e/ou camarins. Não quero parecer uma espécie de “tia Cotinha fofoqueira”, mas inúmeros astros simpáticos aos olhos do público são tão amáveis quanto uma manada de javalis enfurecidos. Em contrapartida, existem outros, vistos como “estrelas”, que são capazes de convidar você para um bate-papo em um bar.
Quer alguns exemplos? Slash é um dos caras mais “gente boa” do planeta, capaz de dividir uma mesa cheia de caipirinhas com um fã; por outro lado, Billy Duffy (The Cult) sempre faz por merecer umas bordoadas e umas tesouras-voadoras (é, aquele conhecido golpe da luta-livre-marmelada que rolava na TV) por conta de sua arrogância.
Escrevo isso para alertar todo aquele que deseja construir uma sólida carreira musical. Tão importante quanto dominar as escalas pentatônica é entender que a humildade e o respeito pessoal com todos aqueles que o rodeiam – amigos, parentes, colegas de banda, músicos de outros grupos e até mesmo aqueles que porventura já admirem o seu trabalho – são elementos igualmente fundamentais para o sucesso.
Tudo bem, neste exato momento você pode até pensar “Pô, mas o Yngwie Malmsteen é um cara famoso e trata todo mundo como se fosse merda”. Só que eu aposto doze figurinhas da seleção de 70 e mais uma garrafa de suco e goiaba como o sueco grandalhão, quando começou sua carreira, tinha temperamento e personalidade muito diferentes dos dias atuais. O que aconteceu foi que ele – assim como inúmeros outros rockstars – se deixou levar pelos tradicionais excessos mundanos do show business, agravado ainda mais por uma fraqueza de caráter difícil de combater em algumas pessoas e, claro, um séquito de baba-ovos. Como explicar que caras muito mais famosos – como Brian May, Eddie Van Halen e Tony Iommi, só para citar alguns – tratem seus fãs como verdadeiros gentlemen?
Também sei que você deve pensar “o Regis mete o pau em um monte de artistas e agora vem escrever sobre respeito…” Pois é, aí é que está a diferença: como crítico, tenho o direito de descer a lenha nos trabalhos e nas atitudes profissionais de quem quer que seja, mas não tenho o direito de ofender pessoalmente essas mesmas pessoas. Agora, se os fãs tomam como ofensa pessoal qualquer coisa que qualquer crítico escreva ou diga a respeito do trabalho de seu ídolo, aí já é caso de carência e outros problemas emocionais que não competem a mim elucidar...
Voltando ao assunto desta coluna, quem já teve a oportunidade de manter um contato – por menor que seja – com um ídolo que tenha se mostrado gentil e atencioso sabe o quanto isso significa em termos de estímulo. Por isso, espero que você, que porventura esteja lendo estas linhas e se esforçando em busca de um lugar ao sol na praia dos músicos e artistas bem sucedidos, lembre deste texto quando for requisitado para um autógrafo – algo que, sinceramente, espero que aconteça em sua vida. Um minuto de atenção pode transformar a vida de alguém, da mesma maneira como transformou a minha…
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