terça-feira, 20 de julho de 2010

ENTREVISTA COM LEO MENDES

O Highest Dream foi uma das recentes surpresas do AOR made in Brazil. Capitaneado pelo tecladista Leo Mendes (foto), a banda assinou contrato com a gravadora britânica Escape Music e, em seguida, lançou "Far Away From Here", seu álbum de estréia.

Nessa entrevista gentilmente concedida por Leo, abordamos uma variedade de assuntos, desde a formação do Highest Dream até os planos para a banda. E desde já deixo aqui meu agradecimento ao amigo pela disponibilidade. Abaixo, a conversa na íntegra.

01. Você já era nome conhecido no cenário musical do Rio de Janeiro quando decidiu montar o Highest Dream. O que o levou a isso?

Eu sempre trabalhei com música desde os 17 anos de idade, mas como dependia disso pra sobreviver, sempre tive que trabalhar para outras pessoas e artistas e nunca tinha muito tempo pra me dedicar a algo somente meu. Mas o AOR esteve presente na minha vida desde criança e sempre foi o meu estilo musical. Meu sonho era poder ter um trabalho assim e quando finalmente eu cheguei num estágio de vida que eu teria disponibilidade de tempo e condições pra me dedicar a isso, foi o momento exato pra realizar esse meu sonho.

02. O vocalista Riq Ferris foi o primeiro a ser contatado, certo?

Eu já tinha tocado em uma banda de covers como Riq há muitos anos atrás e, desde essa época, nós tínhamos uma afinidade musical muito grande. Depois dessa banda, eu comecei a trabalhar em outro ramo além da música, me deixando um pouco afastado dela. Depois de um período longo, resolvi voltar à atividade, mas pra fazer algo voltado com o que eu realmente gostaria. Entrei em contato com o Riq e resolvemos dar início a esse projeto. Nós tínhamos algumas idéias e músicas guardadas em nossos acervos e juntamos pra finalmente gerar o Highest Dream. A idéia inicial era fazer uma pré-produção e depois arregimentar o restante dos membros pra banda. Mas, devido a algumas dificuldades, eu mesmo acabei gravando praticamente tudo e convidei alguns amigos guitarristas pra fazerem os solos de guitarra. Nosso objetivo também era, após o lançamento do CD, criar a banda e cair na estrada com ela.

03. Como os outros membros da banda integraram o projeto?

Após o CD finalizado e fechado o contrato com a Escape Music, foi dado continuidade ao plano de colocar a banda na estrada. Eu fiz o convite para dois amigos e guitarristas que gravaram o CD (Marcelo Nami e Márcio Loureiro) que aceitaram na hora. O Márcio indicou o Marquinhos dos Santos (baixo) e o Riq indicou o André Andrade (batera). Essa foi a formação original. Mas houve algumas adaptações durante esse período e John Cássio (guitarra), que também gravou o CD, substituiu um dos guitarristas e também o Zé Mário (batera) entrou no lugar do André. Ou seja, foi meio confusa essa adaptação, mas finalmente a banda ficou estruturada até a saída do Riq, o que acabou “engessando” um pouco a continuidade do projeto.

04. Quando o material estava pronto, você o enviou para várias gravadoras e rádios, mas seu alvo principal era a Frontiers Records, certo?

Sim! A Frontiers, atualmente, é a gravadora de maior expressão no meio AOR e o objetivo era esse mesmo. Mas o presidente (Serafino Peruggio) conversou comigo e foi muito receptivo e educado, mas disse que não seria possível pegar o Highest Dream, pois precisaria dar prioridade a vários outros artistas naquele momento.

05. É verdadeira a história de que o Serafino Peruggio – presidente da Frontiers – lhe indicou o Khalil Turk, da Escape Music?

Exatamente! Eu achei que o Serafino tinha dito que não teria como pegar o Highest Dream apenas por uma maneira educada de dizer que não gostou do trabalho. Mas ele mesmo havia dito que iria me indicar para a gravadora de um amigo dele (Khalil Turk), a Escape. Eu achei que fosse “história pra boi dormir” aquilo e fiquei desesperançado. Mas pra minha grata surpresa, o próprio Khalil entrou em contato comigo no dia seguinte do email enviado pelo Serafino, dizendo que queria fechar o contrato comigo pra lançar o CD no mês seguinte. Fazer o que? Que chato isso, né? Rs.... A Escape foi muito solícita e prestativa no lançamento do CD.

06. Você já tinha o álbum pronto quando assinaram o contrato, certo? A produção estava a cargo de quem, na época?

Como eu disse acima, a idéia era fazer uma pré-produção pra depois entrar em estúdio com a banda formada. A produção e direção musical foi feita por mim. Confesso que a qualidade sonora no CD não está atendendo (pro meu gosto) às necessidades do mercado fonográfico, mas foi o suficiente pra que a Escape desse seu crédito. Os arranjos e as gravações foram feitos da melhor forma possível e com toda dedicação e boa vontade do mundo, mas em termos de qualidade sonora, realmente ficou um pouco a desejar em função de ter sido feito em um Homestudio.


07. E esse contrato era para o lançamento de um álbum apenas ou incluía outros?

O contrato feito com a Escape foi de apenas um álbum dentro de um período de 3 anos, sendo possível renovação. Mas aí serão novas negociações.

08. As composições são de sua autoria e do Riq. Esse processo foi fácil?

Eu e Riq tínhamos muitas idéias guardadas e juntamos isso pra chegar ao repertório final do CD, mas a maioria das músicas veio do Riq. Ele tinha a idéia crua delas, como melodia e letra gravadas em um MP3 player, e eu pegava e fazia o restante do arranjo e fazia também algumas alterações nas letras e/ou melodia. Foi muito tranqüilo de trabalhar com o Riq durante esse processo, pois nós dois tínhamos praticamente o mesmo gosto musical e uma afinidade grande nesse sentido. Os dois aceitavam muito bem as idéias um do outro e foi muito gratificante isso.

09. O lançamento de "Far Away From Here" animou os fãs brasileiros e foi alvo de discussão – no bom sentido – em inúmeros fóruns na internet. Como foi a receptividade do álbum nos mercados europeu e japonês, os mais fortes quando o assunto é AOR/Melodic Rock?

Sinceramente, eu não esperava que fosse ter uma receptividade tão grande, até porque eu não sabia como funcionava o mercado internacional nesse estilo. O púbico é bem crítico, fiel e isso foi fundamental pra divulgação e a admiração do trabalho. Foi muito gratificante poder ver minha imagem em revistas ao lado de grandes ídolos meus de infância. Na verdade mesmo, a receptividade maior veio da Europa, pois acredito ser o centro nervoso do AOR. O Japão é focado mais pro metal e coisas mais pesadas. Bem...eu também não sei dizer tão bem como foi a receptividade no Japão, porque conseguir traduzir o que os sites de lá dizem não é uma tarefa muito fácil. Os caras podem estar xingando até minha mãe nas críticas que eu vou ta achando legal e rindo a toa! Rs...

10. As influências mais fortes no álbum são de Journey e Survivor, dois dos maiores nomes do AOR. Esse ponto foi comum com os outros integrantes da banda?

Como a faixa-etária dos membros da banda é praticamente a mesma, todos nós pegamos o auge dessas bandas nos anos 80, ou seja, foi uma referência musical muito forte pra gente. Nem todos os integrantes são tão fãs de AOR quanto eu, mas o respeito e admiração pelo trabalho do Journey, Survivor, dentre outras bandas mais não pode ser deixado de lado. Mas certamente essa influência direta, e desde a minha infância, foi a responsável pelo resultado dos arranjos.


11. O Highest Dream está sem vocalista no momento, certo? Como está a procura pelo substituto do Riq Ferris?

Eu tive algumas indicações muito boas até o momento, mas esse estilo não é muito fácil de se cantar. Exige muita técnica e alcance de voz, o que não é uma prática muito comum pros vocalistas brasileiros, ainda mais aqui no Rio de Janeiro. Mas a busca ainda está sendo feita e sugestões também são bem vindas! ;)

12. E o material do segundo álbum Leo, o que pode nos dizer sobre isso?

Atualmente, estou reunindo as idéias e registrando-as. Diria que está em fase de "rascunho" ainda. Mas tenho a esperança de até no final de 2010 já ter uma pré-produção definida. Os integrantes continuam os mesmos, fora o vocal, e estão aguardando a volta das atividades pra colocarem a mão na massa.

13. O produtor Beau Hill se interessou pelas novas canções da banda, o que já mostra qualidade, na minha opinião, dadas as bandas que ele costuma produzir. Essa poderia ser a porta de entrada para o mercado norte-americano?

Na verdade mesmo, o Beau mostrou grande interesse antes mesmo deu ter fechado o contrato com a Escape e até hoje se mostra presente em fechar essa parceria. É óbvio que ele tem seus interesses comerciais nisso, mas me surpreendeu a boa vontade e a predisposição pra se dedicar ao trabalho, chegando a propor um bom negócio financeiro nisso. É fundamental ter alguém de peso e nome internacional por trás do trabalho. Com certeza seria um apoio fundamental para abrir novas portas, principalmente no mercado tão competitivo como o norte-americano. Mas...é algo à ser analisado sim.

14. Leo, o cenário AOR/Melodic Rock está mais que consolidado na Europa e Japão, especialmente. Agora, a Frontiers se arrisca no disputado mercado norte-americano. Sendo um mercado que dita tendências em várias frentes, você acha que esse seria o último obstáculo a ser superado para que o AOR/Melodic Rock retome seu lugar dentro da indústria?

Olha, não quero ser pessimista, mas não acredito que o AOR volte a ter a mesma força que teve nos anos 80, mas certamente voltando a entrar no mercado norte-americano, vai ter uma visibilidade maior para os novos fãs e estimular novas bandas que sempre gostaram desse som, mas nunca tiveram um incentivo pra se dedicar. Isso só vem pra trazer coisas boas pra todos os amantes do estilo.

15. Dentro desse cenário, o Brasil tem feito bonito nos últimos anos. Além do Highest Dream, o pessoal da Auras e N.O.W. tem arrancados elogios de todos os cantos do planeta com excelentes álbuns. E agora, Joey Summer está trilhando o mesmo caminho. O pouco espaço dado pela mídia é a razão pela qual tanta gente boa sai do país para lançar seus álbuns ou a questão é mais complexa?

Eu acho que é uma questão do “modismo” mesmo. O rock tem várias linhas (hard, progressivo, aor, death, metal, heavy, etc) e no Brasil, atualmente, o mercado do rock está focado para uma outra linha que não a do AOR, embora a quantidade de fãs ainda seja grande. O público mais abrangente de AOR está lá fora mesmo, mais concentrado na Europa. Por isso ainda é mais comercial para as bandas brasileiras fazerem seus nomes lá fora pra depois tentarem ser reconhecidos aqui. O que eu acho uma pena, porque acabamos caindo naquele velho dilema que “santo de casa não faz milagres”.

16. Um show conjunto entre o Highest Dream e a Auras quase saiu do papel. Existem artistas e bandas suficientes no Brasil para esse tipo de apresentação, não acha?

Não só tenho certeza que existem como eu dou a maior força pra que todos se unam pra fortalecer esse movimento aqui. Essa oportunidade de fazer um show em parceria com o Auras foi muito legal. O Gui (mentor do Auras) entrou em contato comigo propondo isso e eu achei demais. Só fiquei muito chateado por não estar com a banda estruturada pra isso no momento. Mas tenho certeza que novas oportunidades virão. Agora, uma idéia que dei para o próprio Gui e estendo a quem mais do meio se interessar, é de se fazer um CD de coletânea com todas as bandas do cenário AOR brasileiro e divulgar isso aos 4 cantos do mundo. Seria uma forma de levantar a bandeira do estilo aqui dentro e mostrar a capacidade e respeito que nós temos pro restante do mundo.

17. Não podemos esquecer de que o Brasil já recebeu shows de grandes nomes do AOR/Melodic Rock. O que ainda falta para que o estilo consiga seu espaço por aqui, na sua opinião?

Acho que falta um pouco mais de ousadia por partes de empresários de casas de shows e de um modo em geral. O AOR é um estilo querido por milhares de pessoas e, pra minha surpresa, por milhares de novos fãs, ou seja, dessa galera “teen” também. A preocupação comercial e com o retorno financeiro faz que se tenha um “medo” de investir nesse estilo aqui dentro. É até compreensível essa preocupação da parte dos empresários, mas eu acho que é só visualizar onde está a fatia do mercado onde se concentra o público AOR e investir. Tenho certeza que o retorno viria sem erro.

18. E falando em cenário atual, somos constantemente surpreendidos por álbuns de excelente qualidade. O primeiro semestre foi arrasador e o material que chegará às lojas até Dezembro é igualmente maravilhoso. O que você anda ouvindo ultimamente?

Na verdade, eu ainda curto muito ouvir as bandas das antigas, isso não sai do meu som. Tenho acompanhado alguns lançamentos e gostado de algumas músicas isoladas de alguns álbuns. Mas se eu tivesse que escolher algumas bandas recentes que curto ouvir o álbum todo, eu arriscaria dizer: W.E.T., Work of Art, Mastedon, Asia (o álbum "Omega") e, é claro o AURAS e o N.O.W., dois excelentes discos.

19. Finalmente, dois anos depois do primeiro álbum, quais os planos para o Highest Dream?

O objetivo agora é focar no segundo disco, com uma produção de primeira e com uma concepção ainda bem firmada no AOR raiz, mas com toques maiores de criatividade, com pegadas mais fortes e algo progressivo também. Finalizar a pré-produção e depois entrar em estúdio com a banda toda. Deixar o trabalho impecável dessa vez.

Leo, foi um grande prazer falar contigo. Espero o retorno do Highest Dream com mais material de alta qualidade e lhe desejo mais sucesso. Parabéns pelo álbum e que ele seja o primeiro de vários. Grande abraço

Rock on...

Muito obrigado mais uma vez pela sua eterna força, Juliano. É sempre bom e estimulante saber que ainda podemos contar com pessoas como você que ainda conseguem manter acesa e forte a chama do AOR aqui no Brasil. E parabéns pelo seu site.

Queria aproveitar e agradecer também a todos os fãs espalhados pelo Brasil e pelo mundo por todo o apoio, carinho e admiração que tiveram pelo Highest Dream durante esse período. Podem acreditar que o melhor pagamento que um artista pode ter é o reconhecimento do seu trabalho pelo público. Um grande abraço pra todos vocês.

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