O grande Fábio Massari (foto) escreveu um texto muito bacana para sua coluna no Yahoo! Brasil, onde trata, como o título entrega, dos bootlegs e sua relação com a pirataria. O enfoque é bastante simples, porém, extremamente acertado, especialmente se você - como eu - é colecionador de álbuns, e não somente comprador de discos e/ou cds. Abaixo, trechos selecionados do texto que pode - e deve - ser lido na íntegra, clicando aqui.
"O 'american composer' e guitarrista sublime Frank Zappa detestava pirataria. Não curtia, claro, o fato de que vários de seus títulos circularam, ao longo dos anos e em diversas praças, na base do clone, da falsificação, da réplica ilegal. E também não simpatizava com o universo dos bootlegs – vertente, digamos, mais branda da pirataria, que parece(u) gozar de certo salvo-conduto artístico por ser uma atividade mais próxima do fã, com interferência menor nas carreiras discográficas, já que falamos invariavelmente de registros alternativos como shows, gravações perdidas etc. O capricho gráfico, de produção de alguns desses bootlegs é de fazer inveja aos lançamentos oficias das grandes corporações. Para a indústria do disco, tudo a mesma coisa: atividade ilegal e condenável.
Na briga contra o elusivo e gigante mercado dos bootlegs, Zappa encampou curioso projeto de contra-ataque no limiar da década de 90. Consultou um especialista na sua (gigante) discografia não-oficial, selecionou os 15 títulos mais legais/famosos/prediletos e os lançou, através de 2 pacotes, em caráter oficial. A série Beat The Boots fez a alegria daqueles que só conheciam esse ou aquele título (tiragens sempre reduzidas), mas não resolveu exatamente a questão. Tudo bem que mais gente teve acesso aos discos, com qualidade melhorada, mas os bootlegs originais passaram a valer mais e nada disso impediu que Zappa continuasse a ser um dos artistas mais perseguidos pelos produtores clandestinos planeta afora.
O músico de Baltimore não foi o primeiro e nem o único a atacar, dessa forma, esse lado da sua pirataria. O Sr. Zimmerman, por exemplo, também tem sua Bootleg Series. Aliás, segundo o jornalista Clinton Heylin, no seu fantástico livro Great White Wonders – A History of Rock Bootlegs, é o próprio Bob Dylan quem inaugura o filão dos bootlegs no rock (já ocorriam no âmbito da ópera, do jazz e do blues). Ou melhor, os espectrais responsáveis pelo bolachão Great White Wonder, que começou a pipocar em pequeno circuito de lojas independentes de Los Angeles, no verão de 1969. Na capa de papelão, só as 3 letras, GWW, e nos dois discos (selos brancos), material inédito de Bob Dylan – gravações caseiras de 61 e 67. Para Heylin, e especialistas em geral, surgia aqui toda uma nova indústria de discos. Alegria quase irrestrita dos apaixonados e entusistas desse ou daquele artista. Do outro lado, emoções e reações variando de acordo com a percepção de cada um desses artistas com relação à questão (exemplo grande de liberação geral é o do Grateful Dead, que praticamente incentivou a atividade, chegando ao ponto de criar áreas exclusivas nas dependências de seus concertos, para que os interessados em registrá-los o fizessem de maneira algo organizada).
Tudo isso para dizer que, se fizerem um listão com os títulos obrigatórios da discografia alternativa de Tom Waits, Nighthawks On The Radio é um daqueles que absolutamente não podem ficar de fora. Aliás, dada a qualidade quase transcendente do registro, é quase um crime que não tenha, ainda, uma versão oficial em circulação."
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