Se você está atento ao universo dos bons sons - pelo menos nas últimas duas décadas - é impossível que não saiba que é Mikael Erlandsson. Integrante de várias bandas e outros tantos projetos, o sueco é nome recorrente quando o assunto é AOR/Melodic Rock.
Como fã do Last Autumn's Dream - que não foi criado por ele, como vocês descobrirão nesta entrevista - há tempos queria uma entrevista com Mr. Erlandsson, e quando a banda lançou o excelente "Yes", vi uma oportunidade. Arrisquei, e deu certo!
Conversamos durante dois dias e posso lhes afirmar que o cidadão é muito divertido e responde qualquer pergunta sem medo. Falamos extensivamente sobre sua carreira, englobando as bandas das quais ainda faz parte e sua carreira solo que será retomada em breve, como ele revela em primeira mão.
Portanto, nibelungas e nibelungos, eis o grande Mikael Erlandsson, falando pela primeira vez para a América Latina, com exclusividade, aqui na AORWatchTower.
01. Você começou sua carreira como baterista da banda Infektion no final dos anos 70 e se envolveu em vários projetos ao longo da década de 80. Como era o cenário musical na Suécia, naquela época?
Mikael: No início da década de 80 houve uma explosão de bandas e eu quis me envolver com quantas delas eu pudesse, desde que tivessem material de qualidade. Então fui baterista em uma banda (Infektion), tecladista em outra (Studz) e ainda vocalista em uma terceira (N'gang). Foi na N'Gang que desenvolvi minha técnica como compositor. A competição no mercado era muito pesada e, por isso, era muito difícil conseguir um contrato. Mas eu consegui contratos com duas das três bandas em que estava. Fico feliz com isso até hoje (Risos)
02. Em 1993 você era integrante da Crash, e a banda lançou um álbum muito bacana que acabou sendo o único. A idéia era lançar apenas um álbum ou as coisas simplesmente aconteceram daquela maneira?
Mikael: Álbum fantástico mesmo! As idéias sobre que direção a banda deveria tomar eram bem diferentes, e optei por compro, exclusivamente. A Crash já tinha um compositor e ele queria controlar tudo. Isso tornou muito difícil trabalhar, quero dizer, o fato de haver dois compositores com idéias diferentes. Mas ainda somos amigos, então acho que tive sorte ao deixar a banda, caso contrário, acabaríamos nos matando (Risos)
03. Um ano depois você lançou seu primeiro álbum solo, chamado "The One". Quais as suas memórias do periodo de gravação do álbum?
Mikael: Para esclarecer desde já, a maioria daquelas canções foram escritas para a Crash, então o que vocês ouvem naquele álbum são demos, na verdade. As canções foram gravads no Tits And Ass Studio, com Mats "MP" Persson (responsável por álbuns do Roxette, Per Gessle, Marie Fredriksson e outros). Entre 93 e 94 visitamos várias gravadoras em Estocolmo com essas gravações e conseguimos um contrato com a Hawk Records imediatamente. Eles queriam lançar as canções a todo custo e, portanto, o que você ouve no álbum são, na verdade, as demos. Mesmo a versão japonesa é composta pelas mesmas canções, sem nenhuma diferença.
04. Uma das coisas que me impressionaram foi que haviam apenas dois músicos listados no album: você e Mats Persson, mas Aymeric Desombre também participou. Como eles foram escolhidos para participar do álbum?
Mikael: No álbum "The One" éramos apenas eu e Mats, que foi quem tocou a maioria dos instrumentos. Tivemos algumas participações de outros músicos que estavam por perto, apenas para tentarmos variações de algumas canções. Já Aymeric Desombre era o meu manager e também parceiro de composições. Nos divertimos muito durante as gravações do álbum e razão pela qual escolhi Mats para participar do álbum era porque tínhamos as mesmas idéias, os mesmos conceitos para o álbum.
05. Em 1996 você lançou "Under The Sun" e apenas um ano depois, "Unfamiliar" chegou às lojas. Mas nenhum desses álbuns aparece em sua discografia oficial em muitos sites importantes e confiáveis, digamos assim. E estamos falando de 23 canções! Levei um bom tempo até encontrá-los no Japão e, por isso pergunto: eles foram lançados apenas lá?
Mikael: O álbum "Under The Sun" foi gravado sob muito pressão da minha gravadora. Eu já havia gravado todo o material com Mats em Halmstad, mas a gravadora havia encontrado um produtor ”perfeito” para aquelas canções, e substituíram tudo o que eu havia feito anteriormente. O que eu havia gravado com Mats era magicalmente bom, mas quando o álbum foi regravado as canções perderam o brilho e perderam a base (você pode ouvir como eu estava sem inspiração). Talvez eu ainda regrave tudo no futuro. Já "Unfamiliar" é outra coleção de demos que foi lançada exclusivamente no Japão, por piura pressão da gravadora. Não me agradam nenhum dos álbuns, sinceramente, mas as canções são muito boas (Risos).
06. E são mesmo. Seis anos depois você lançaria seu último álbum solo, chamado "The Gift". Você o vem como o fim de um ciclo? Quero dizer, desde então você não retomou sua carreira solo. Há planos para que isso aconteça novamente?
Mikael: "The Gift" é meu álbum favorito. Com ele, eu voltei aonde havia começado tudo. M encontrei com Mats Persson e gravamos algumas canções novas. Foi mágico, logo na primeira sessão. Hoje em dia tenho meu próprio estúdio e já estou planejando um novo álbum solo. Já tenho material suficiente para três ou quatro álbuns, portanto, pode esperar um novo trabalho solo em breve.
07. No mesmo ano foi lançado o primeiro álbum do Last Autumn’s Dream. O album não é apenas famoso pelas canções, mas também pelas ilustres presenças do tecladista Mic Michaeli, do baixista John Léven e do baterista Ian Haughland – do Europe – no lineup. Como eles se envolveram no projeto?
Mikael: Depois do meu álbum solo, eu queria cair na estrada e viajar, mas eu não tinha contatos para isso. No Japão, Naohiro Yamazaki (da Avalon/Marquee) soube disso e me perguntou se estaria interessado em começar uma superbanda já com contratro garantido. Foi ele quem entrou em contato com Mic, John e Ian e, logicamente, Andy, e todos disseram sim. Portanto, desde o princípio, o Last Autumn 's Dream era mais um projeto do que uma banda, por assim dizer.
08. O Last Autumn’s Dream tem lançado um album a cada ano – em media – e passou por algumas mudanças em seu lineup. Mas com todo respeito devido aos ex-integrantes da banda, Marcel Jacob – que tocou com a banda entre 2005 e 2009 - me parece o mais especial entre eles. Quais as suas lembranças de Jacob?
Mikael: Só tenho boas lembranças de Marcel. Ele foi, sem dúvida alhguma, o melhor músico com quem já trabalhei. O que muitoa gente não sabe é que ele era um exímio guitarrista e compositor. Ele também tinha um espírito muito forte, sempre fazendo o que lhe parecia melhor para si e eu o respeitava muito por isso. Eu gostava muito dele, e Marcel gostava de fazer parte do Last Autumn’s Dream.
09. Entre os trabalhos que Marcel deixou com a banda, há algum que você considere o melhor?
Mikael: É difícil dizer em qual álbum ele NÃO fez o seu melhor. Eele acertava sempre, em todos os álbuns, até mesmo quando tocava guitarra. Tudo o que ele fazia era extremamente bom.
10. Analisando o catálogo da banda, é bastante evidente que o Last Autumn’s Dream trafega confortavelmente entre o hard rock e o radio friendly AOR. Essa é uma característica da banda ou é um movimento planejado, algo que cada album da banda deve ter?
Mikael: Oh, não! (Risos) O que buscamos com o Last Autumn’s Dream é divulgar nossas canções. Mas é lógico que precisamos de canções que possam ser tocadas nas rádios. Foi no rádio que ouvi canções mágicas e é onde quero que as pessoas ouçam as nossas canções.
11. Vamos falar sobre "Yes", o álbum mais recente. O que você pode nos contar sobre o processo de gravação do álbum?
Mikael: Depois da morte de Marcel foi muito difícil escrever material para o Last Autumn’s Dream. Jamie escreveu a maioria das canções do novo álbum. E acredito que isso serviu como terapia para ele, já que era ele quem ficava mais perto de Marcel na banda. Então, dessa vez, me pareceu melhor me afastar um pouco, mas o álbum tem uma tônica bastante positiva. Acho que acertamos em cheio.
Gravamos o álbum no XTC Studio em Estocolmo. Jamie, Nalle, Andy e eu passamos alguns dias lá em Agosto. Mas quando deveríamos começar a gravar, eu estava terrivelmente resfriado, mas superei. Conferiu uma sonoridade diferente (Risos). As gravações aconteceram rapidamente para nós porque sabíamos como cada canção deveria soar.
12. Entre todos os álbuns do Last Autumn’s Dream, acho "Yes" o mais AOR-oriented de todos, e com tantas canções excelentes fica até difícil destacar uma. É um álbum muito coeso e, como já havia lhe falado anteriormente, consider este trabalho um sério candidato a "Álbum Do Ano". Esse tratamento mais AOR que as canções receberam foi um movimento planejado ou simplesmente aconteceu?
Mikael: Que nada! Foi tudo planejado para que possamos flertar com um público maior e diferente (Risos). O que queremos é tocar nossas canções para o público.
13. Alguma canção preferida no tracklist?
Mikael: No momento, minha favorita é "In This Thing Too Deep", simplesmente porque foi inspirada em uma canção do Sweet e porque tem um refrão excelente.
14. Além do Last Autummn’s Dream você lidera o Salute. Vamos esclarecer uma coisa aqui: o Salute é uma banda ou um projeto?
Mikael: O Salute é ambos, na verdade. Todos os integrantes moram perto de minha casa e também perto do estúdio.
15. E como o Salute foi formado?
Mikael: Quando eu mixei o álbum "Dreamcatcher" com Martin Kronlund em seu estúdio, me impressionei com o som e o convidei para participar em alhumas canções. Depois disso, perguntei a ele se poderíamos compor alguma coisa juntos. E Martin me falu que ele e Imre Daun – da Snow Patrol – haviam gravado algumas demos em seu estúdio, apenas como diversão. Depois de algumas semanas, eu também estava lá gravado demos, apenas por diversão (Risos)
E foi assim que o Salute surgiu. Uma hora depois que havíamos formado a banda, já tínhamos um contrato assinado.
16. O Salute já lançou dois álbuns, com um ano de interval entre eles. Podemos esperar um novo trabalho da banda em 2011?
Mikael: Certamente, mas que seja acertado com outra gravadora. Você tem alguma sugestão para nós? (Risos)
17. É muita responsabilidade para mim, Mikael (Risos). E falando em álbuns lançados anualmente, o Last Autumn’s Dream segue essa linha desde 2005. Como você encontra tempo para tudo isso? (Risos)
Mikael: Tempo, na verdade, nunca foi problema. Eu escrevo música o tempo todo (Risos). Enquanto houver quem queira nossas canções, elas continuarão surgindo.
18. Nesse ritmo, podemos espoerar um novo álbum do Last Autumn’s Dream para este ano, então?
Mikael: (Risos) Juliano, você é a primeira pessoa para quem falo isso, mas o novo álbum já está quase pronto!
19. Você ainda participou de vários projetos ao longo dos anos - como Radioactive, Prisoner, Heartbreak Radio, Northern Light, etc… - e teve a oportunidade de trabalhar com músicos do calibre de Tommy Denander, Sayit e muitos outros. Como você escolhe quais projetos aceitar?
Mikael: A maioria desses projetos foi criada por grandes amigos meus, então quando eles me pedem para participar, eu sempre agradeço e aceito imediatamente. Simplesmente porque é muito divertido fazer parte desses projetos. Tommy Denander é um velho amigo e por isso colaboramos nos trabalhos um do outro.
20. E falando sobre projetos, em 2009 você se reuniu com Mikael Carlsson no projeto Lover Under Cover. Até onde eu sei, vocês só gravaram "Who Needs Love?", uma canção do Last Autumn’s Dream. Como vai o projeto atualmente?
Mikael: Eu e o senhor Carlsson gravamos material novo há algumas semanas. E ele escreve grandes canções e espero gravar novamente com ele em breve.
21. Em 2010 você integrou dois grandes projetos, então vamos tratá-los individualmente, começando pela Shining Line. Como você foi chamado?
Mikael: Yeah! Eu fui convidade pelo Zorro11 para gravar uma canção chamada "Can't Stop The Rock". É claro que eu aceitei, fiquei honrado com o convite. Ele me mandou a música e graveio os vocais em meu estúdio. Desde então mantemos contato frequentemente e estamos planejando mais coisas para um futuro próximo.
22. E você também fez parte do novo álbum do projeto Phenomena, de Tom Galley…
Mikael: Tudo isso começou no estúdio de Martin. Ele mixou o álbum do Phenomena com Tom e antes das gravações começarem, Mr. Galley ouviu minha voz em uma canção do Last Autumn’s Dream. Em seguida me contatou e fez o convite para eu participar do novo álbum gravando "Angels Do Not Cry". O que eu poderia dizer? Amo o material mais antigo do Phenomena. Quem gravou o vocal na demo foi Glenn Hughes. Mas Tom gostou muito da minha versão, e a canção é muito forte, já que trata de abuso infantil e incesto.
23. O Brasil, finalmente, está redescobrindo o AOR, já que o estilo tem uma grande base de fãs por aqui. Artistas e bandas como House Of Lords, Ted Poley, Tyketto e Jeff Scott Soto – entre outros – já estiveram aqui. Que tal uns shows do Last Autumn’s Dream na Terra Brazilis?
Mikael: Nós absolutamente adoraríamos ir até aí e tocar para os fãs brasileiros. Nos chamem e iremos!
24. Recentemente, o Brasil ntrou no cenário AOR/Melodic Rock com quatro bandas de peso: Auras, Highest Dream, N.O.W. e Goodbye Thrill (as duas primeiras são 100% made in Brazil e as outras duas são capitaneadas ou foram formadas por brasileiros). Você já teve oportunidade de ouvir o trabalho dessas bandas?
Mikael: Ainda não tive a oportunidade Juliano, mas depois dessa entrevista vou me inteirar dos álbuns de todos eles (Risos)
25. Finalmente Mikael, com todos os projetos que você tem e que estão em andamento, o que podemos esperar de você em 2011?
Mikael: Eu e meus colegas prometemos muitas canções novas e faremos o possível para encontrá-los em breve.
Mikael, agradeço imensamente a oportunidade de conversar com você. Como fã de longa data de sua carreira solo e dos álbuns do Last Autumn’s Dream, pode apostar que significou muito! Lhe desejo ainda mais sucesso e as portas da AORWatchTower estão abertas à você.
Mikael: Muito obrigado Juliano, pelo papo bastante divertido. Que nossos fãs tenham o melhor em suas vidas e que lembrem-se de que o amor conquista tudo.
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