Abaixo reproduzo a entrevista exclusiva que Charley Gima - diretor e jornalista da MiG 18 - conseguiu com Aquiles Priester, baterista do Hangar (foto). Nela, o músico conta um pouco do que aconteceu com a banda onde toca e revela como foi a negociação com as empresas que "organizaram"o evento.
MiG 18 – Aquiles, os fãs do Hangar, do metal nacional e até do
metal mundial ficaram pasmos com a desistência do Hangar no festival
Metal Open Air, o que de fato ocorreu? O que os produtores do MOA
alegaram pra banda?
Aquiles Priester – A situação não é
de agora. Quando você acerta um show ou qualquer tipo de evento, junto
com o contrato você acorda vários detalhes de cachê, deslocamento,
equipamento e logística. O contrato nunca chegou. A comunicação com os
organizadores sempre foi difícil. A confirmação de hotel chegou somente
dois dias antes do evento, quando já estávamos na estrada. Começamos a
solicitar o que havíamos combinado e ficamos estacionados em Fortaleza
esperando pela solução. Na manhã da quinta feira, dia 19, eles entraram
em contato e ofereceram apenas 35% e o restante no dia do festival. Como
já era manhã do dia 19 e estávamos de ônibus, não havia tempo para
chegar a São Luis para o show. De qualquer maneira, sem o combinado
sendo acertado, não aceitaríamos expor a banda a uma situação arriscada
de viajar tantos quilômetros e não saber como seríamos recebidos ou se
seríamos pagos. Por maior que seja o nosso amor ao metal, não podemos
tocar de graça. Isso é nosso trabalho e ninguém trabalha de graça!
MiG
18 - Esse cancelamento acarreta uma série de problemas logísticos pra
banda. Onde vocês estão hoje, o que estava planejado e o que farão para
contornar o problema?
Aquiles - Nunca tocamos sem o
nosso próprio backline. Fazemos questão de ir com nosso ônibus levando
toda a estrutura da banda. Uma opção que é nossa, ao contrário das
outras bandas que iriam de avião e tocariam com backline local. Seriam
mais de 4.000 km de São Paulo até São Luis, mas não importa, todos sabem
que trabalhamos assim. Na ida para São Luís marcamos alguns workshops
nas cidades de Palmares, Recife e Caruaru em Pernambuco, Picos no Piauí e
Fortaleza no Ceará. Para fazermos essa viagem para tocar no M.O.A.
recebemos um adiantamento de 25% do nosso cachê, que não cobriria nem
metade da nossa viagem até lá. Os workshops foram um sucesso de público e
podemos ver o quanto a banda cresceu no Nordeste e o quanto é
importante fazer esse trabalho de divulgação em locais onde nunca uma
banda de metal esteve, como em Picos e Palmares. A medida que os dias
foram passando, e não havendo nenhum tipo de contato, fomos ficando
preocupados e também muito atentos aos sinais que vinham do M.O.A. Se
não fossem os outros eventos marcados, o prejuízo da banda seria muito
maior. São esses prejuízos que desistimulam as bandas e fazem as
atividades serem encerradas.
MiG 18 - Quantas pessoas estão
envolvidas na equipe do Hangar, sofrendo com estes problemas junto com
você, e quanto de equipamento vocês carregam?
Aquiles -
Viajamos com 11 pessoas, 5 da banda e uma equipe com motorista, uma
pessoa que vende nosso merchandising, o engenheiro de som e 3 roadies.
Levamos cerca de 6 toneladas de equipamento com o ônibus, um total de
cerca de cerca de 15 toneladas. Estamos agora todos aqui em Fortaleza,
parados, pois com o cancelamento do M.O.A. temos somente um workshop dia
25 em Goiânia. Toda essa despesa será nossa. Serão três dias parados
mais a volta sem o complemento do nosso cachê. No entanto, em momento
algum pensamos em cancelar a nossa apresentação em Goiânia, pois nosso
fãs não têm nada a ver com as falcatruas da De Negri Concerts e
Lamparina Produções. Se cancelássemos, seríamos iguais a eles… O que
temos de mais importante na história da banda é o nosso caráter. Não
temos o rabo preso com nínguém e podemos sustentar a nossa opinião sem
medo algum… Somos independentes!
MiG 18 - Como um renomado
artista mundial, você procurou saber de outras bandas e artistas, tanto
nacionais quanto estrangeiras, se estão passando pelos mesmos problemas?
Aquiles
– Durante o mês de março eu estava em tour com o guitarrista Tony
MacAlpine, porém sempre atento, sempre cobrando a organização do
festival. Durante a semana falei com algumas pessoas e todas estavam com
os mesmos problemas. Não compro a briga de ninguém de graça e tenho
muito orgulho de termos sido a primeira banda a comunicar oficialmente
que não participaríamos por falta de cumprimento de contrato. Depois da
gente, todo mundo que estava na situação, resolveu abrir a boca e falar
sobre essa vergonha nacional.
MiG 18 - Você considera o ocorrido um desrespeito maior com quem? As bandas nacionais, as bandas internacionais ou os fãs?
Aquiles
- Você tem que realizar projetos quando está realmente preparado para
aquilo. Nesse caso não havia espaço para erros. Existe uma grande chance
de virarmos uma piada do metal mundial pela desorganização. Imagine o
mundo todo falando sobre esse fiasco no mundo metal? Tenho muita pena
das pessoas que realmente trabalha a sério com isso.
MiG 18 -
Vocês chegaram a cogitar o fato de tocar no festival mesmo sem as
garantias contratuais como algumas bandas estão fazendo?
Aquiles
- Nunca. Sair da sua casa somente para ter o nome da sua banda em um
cartaz de festival aqui no Brasil não seria apropriado para o Hangar.
Nós somos o tipo de banda que tenta levar o metal a todos os lugares
possíveis com a nossa própria estrutura. Fizemos um workshow na cidade
de Palmares em Pernambuco na última sexta feira para duas mil pessoas.
Se as outras bandas querem tomar uma passagem só de ida para o festival e
ficar pedindo a passagem de volta e o cache é problema deles. Você tem
que valorizar o que voce faz. Não dá para dar de graça a única coisa que
você faz para viver. Não podemos chegar num posto de abastecimento,
dizer que amamos nossa arte e que tocamos de graça num festival em São
Luís ao meio dia, e que agora precisamos que eles nos dêem combustível
de graça, por que todo mundo ouve música no carro. O cara vai rir e vai
dizer: cada um com os seus problemas…
MiG 18 - Você já tocou em
grandes festivais na Europa e no Japão, esse fato mostra que o Brasil
ainda está despreparado para eventos de grande porte para o Metal?
Aquiles
- O Brasil já teve muitos festivais organizados e sérios. Não seria
correto generalizar. No caso do M.O.A. parece que era uma coisa meio que
anunciada. Já no início, se apropriaram de um nome que não era deles…
Muita gente já estava esperando algumas confusões. Temos que torcer
agora que os efeitos no mundo sejam pequenos porque a falcatrua rolou
solta.
MiG 18 - O que falta para atingirmos uma excelência em
produção de festivais? Apoio governamental, patrocínio, divulgação em
massa ou mais profissionalismo por parte dos envolvidos?
Aquiles - Organização, só isso. O público quer shows de metal. Só precisamos
mudar a imagem do metal… Não precisamos mais do estereótipo que o cara
curte metal adora estar bêbado e drogado e não pensa no seu futuro… Isso
já era, é coisa do passado. Nunca quis essa imagem para minha carreira e
muito menos para o Hangar. O Hangar é um case de sucesso… Nos mantemos
em atividade o ano todo, cuidamos de tudo em torno da banda (merch,
divulgação, prensagem de CDs, agendamento de shows e workshops,
empresariamento, site, etc) e não dependemos de ninguém, a não ser dos
nossos FÃS! Não aceitamos tocar de graça nem na Europa com passagens
pagas. Já nos ofereceram para ser banda suporte de algumas turnês para
tocar em troca de comida, transporte e venda de merch. Não vou viajar,
ficar um mês fora de casa e voltar com as mãos vazias… Não dá mais para
ser irracional. Precisamos arriscar até onde não arriscarmos a
integridade da banda.
MiG 18 - Você ainda acredita que podemos um dia ter um grande festival de metal nos moldes do Wacken ou Sweden?
Aquiles - Com certeza. Tem gente séria e competente o suficiente para realizar eventos aqui no país.
MiG 18 - Estes problemas com o MOA mancham a imagem do Brasil com as bandas gringas?
Aquiles
- Vamos esperar mais um pouco, só está começando, mas com certeza se
alguma coisa não estiver de acordo, eles irão reclamar muito! Tudo pode
prejudicar. O cara sempre vai pensar duas vezes antes de vir ao Brasil.
MiG 18 - Para finalizar, deixe seu recado para os internautas e fãs do Hangar.
Aquiles - Nós estamos aqui para manter a nossa música em primeiro lugar e não
vamos mudar nosso pensamento por causa de um acontecimento desses…
Sempre remamos contra a maré e isso só nos mostra que estamos certos… Se
estivéssemos lá nesse momento, estaríamos abandonados e sem saber para
quem recorrer. O prazer do show já teria passado e estaríamos em sérios
problemas… Obrigado pela compreensão e pela manifestação de todos VOCÊS!
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