quarta-feira, 1 de abril de 2015

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM JOHN ROBINSON

Muitos adjetivos podem ser usados para descrever John "J.R." Robinson, mas o título de "the most recorded drummer in history" resume bem sua trajetória. Não apenas em quantidade, mas uma breve pesquisa mostra com quem ele já tocou e, em especial, em quantos álbuns excepcionais ele figura como músico. Como baterista que sou, sempre tive admiração pelas performances e versatilidade de Robinson, e levando em conta sua extensa colaboração para o universo dos bons sons, decidi contatá-lo e tentar uma entrevista. E em sua primeira entrevista para o Brasil, Robinson concordou falar sobre sua trajetória no mundo da música e o resultado da conversa você confere abaixo.

01 Você começou tocando piano, aos 5 anos de idade, mas mudou para a bateria três anos depois. O que motivou essa mudança?

John Robinson: Acho que fui atingido na cabeça pelos deuses da bateria. Eu ouvia muitos álbuns das 'big bands' com minha mãe e aquilo teve uma influência muito grande naquela mudança. Eu ainda segui com piano mas ele sofreu muito com meu interesse pela bateria.

02 Em 1978, você foi recrutado para juntar-se à banda de Rufus And Chaka Khan, o que o levou a tocar com alguns dos maiores nomes da indústria naquela época. Quais lições você tirou daquele período?

John Robinson: Realmente, eu tive muita sorte quando Rufus And Chaka Khan foram àquele clube em Cleveland. Muito antes daquilo, em Boston, eu estava trabalhando com Lynn Stewart - primo de Chick Corea - e me lembro que, quando Chick entrou no lugar, eu fiquei muito ansioso. Lembro-me que meu foco - que deveria ser unicamente na música - estava em Chick Corea e em sua presença naquele lugar. Aquele momento é algo que sempre tento corrigir quando conheço e/ou trabalho com grandes nomes.

03 No final daquele mesmo ano você foi apresentado ao legendário Quincy Jones. Qual o tamanho do impacto causado por conhecer um personagem quase mitológico na indústria da música?

John Robinson: Quincy já era um dos meus ídolos naqula época. Foram Mark Hartley e Larry Fitzgerald que me apresentaram à ele em um concerto para a orquestra de Los Angeles. Eu já havia me inscrito para seus 'jazz camps' quando ainda estava na escola, mas por causa dos meus horários eu nunca pude participar. Foi puro destino que fez com que Quincy produzisse "Masterjam", de Rufus And Chaka Khan. Também foi o destino que fez Quincy me convidar para gravar "o novo" álbum de Michael Jackson, que viria a ser "Off The Wall". Quincy é um verdadeiro amigo e um mentor.

04 Olhando a sua impressionante discografia (que mais parece um manual de "quem é quem" no mundo do pop/rock), imagino que seja difícil apontar um momento como sendo o mais importante. Mas você falar sobre alguns deles e dizer porque os considera especiais?

John Robinson: Sempre que respondo à uma pergunta como esta cito "Off The Wall". Aquilo, literalmente, mudou meu mundo. Meu primeiro trabalho foi gravado em 1969, quando minha banda de jazz do colégio venceu o Mid-America Jazz Festival. Em seguida, gravei o primeiro álbum solo de Rufus, chamado "Numbers On ABC/Dunhill". E me recordo que, após o primeiro sucesso de Michael Jackson, eu recebi uma ligação de Diana Ross que queria "o baterista que havia tocado em "Off The Wall". Com ela, gravei o sucesso "Missing You".

Com Quincy Jones gravei "The Dude" e aquele álbum venceu muitos Grammy. "All Night Long", "You Are" e "Dancing On The Ceiling", de Lionel Richie, foram grandes sucessos. "I'm So Excited" e "Slow Hand" foram sucessos para as Pointer Sisters. Depois, gravei "Just A Gigolo" e "California Girls" com David Lee Roth. Mas o melhor veio de três direções diferentes: a primeira foi "Ain't Nobody", de Rufus And Chaka Khan  (com a qual ganhei um Grammy); a segunda foi com "We Are The World" (que permanece como o single mais vendido na história da música) e a terceira foi com o álbum "Back In The High Life", de Steve Winwood, que continha "Higher Love", "Back In The High Life" e "Finer Things".

05 Apesar tantos grandes momentos, acredito ser fácil lembrar artistas que tenham sido, digamos, "difíceis de lidar". Não precisa citar nomes, mas você poderia falar sobre alguma má experiência que tenha tido enquanto fazia 'session work'?

John Robinson: (Risos) Logo que cheguei em Los Angeles, em 1978, conheci umas pessoas em uma festa particular. Entre eles, um cara muito famoso me pediu para gravar com ele.  O tempo passou e, um dia, ele me ligou. Fui até um estúdio muito maluco em Hollywood, que cheirava a urina. As gravações não começaram antes das 23:30, quando ele chegou. Havia uma confusão de músicos naquele lugar, e aquele cidadão estava no caminho para se dar mal. Quando eram 05:30 e o sol começou a surgir, caí fora, mas não antes de ver o tal artista caído no chão procurado por alguma coisa.

06 Você é o detentor do título de "most recorded drummer in history", superando o legendário Hal Blaine. Como você se sente, enquanto músico, sendo reconhecido com um título como esse? É possível dimensionar sua importância? E como isso mudou a sua vida pessoal/profissional?

John Robinson: Eu fui muito abençoado por ter gravado tantas canções para álbuns, jingles e TV. Nunca almejei a quantidade, mas sim a qualidade da música que gravava. Sou um dos últimos de uma espécie de músicos que estava no lugar certo, na hora certa. Compositores e DJ's sempre foram muito instrumentais, não apenas para o meu sucesso, mas para o sucesso de todos.

07 Há alguém com quem você gostaria de trabalhar, mas nunca teve a oportunidade?

John Robinson: Me perguntam muito isso. Paul McCartney seria uma dessas pessoas. Meu amigo Abe Laboriel Jr. conseguiu. Mas sou muito agradecido por poder conhecer tanta gente nova, compositores que me permitem interpretar suas visões musicais.

08 Pesquisa é vital para qualquer músico e tenho certeza de que você faz as suas. Quais seriam os 5 álbuns que mais lhe marcaram? Não importa se você participou do trabalho ou não...

John Robinson: Citarei seis álbuns:

1 "Spectrum"- Billy Cobham
2 "Glad All Over"- Dave Clark Five
3 "Back In The High Life"- Steve Winwood
4 "Stompin' At The Savoy"- Rufus And Chaka Khan
5 "Swingin' New Big Band"- Buddy Rich
6 "Off The Wall"- Michael Jackson

Reedição japonesa do clássico Bridge 2 Far
09 Em 1989, você se juntou ao excepcional vocalista Mark Williamson e fundaram a Bridge 2 Far, cujo álbum autointitulado permanece como um clássico do AOR (re-lançado no Japão em 2013 como parte da Light Mellow Series, no formtao Blu-Spec CD2). Como você vê aquele álbum hoje, John?

John Robinson: Eu fui apresentado ao Mark por Brad Westering, que viria a ser nosso empresário, e imediatamente nos demos muito bem. Em seguida, começamos a compor juntos e ensaiar. Brad conseguiu um contrato com a WTG/CBS Records e o álbum foi lançado em 1989, Foi lamentável que o álbum não tenha sido mais bem sucedido mundialmente. Fizemos sucesso com dois singles, mas cerca de um ano depois a WTG faliu.

10 Depois de 18 anos, você e Williamson se reuniram - juntamente com o legendário guitarrista Michael Thompson - para formar o projeto TRW. E o álbum foi uma grande surpresa, já que trazia uma sonoridade mais pesada e bastante diferente do que a Bridge 2 Far fazia, por exemplo. Quando vocês foram procurados pela Frontiers Records, a mudança na sonoridade foi um pedido ou aconteceu naturalmente? E como aquele álbum soa para você, quase uma d;ecada depois?

John Robinson: Na verdade, levou apenas um ano. Depois da Bridge 2 Far, Mark e eu nos unimos à Michael e criamos uma banda chamada Revolver. Começamos a tocar em clubes e um crítico sugeriu que seríamos a próxima incarnação do Led Zeppelin. A banda durou muito pouco e, anos depois, nos reunimos com o nome de TRW. Todos nós temos uma grande influência do rock em nós e que foi exposta no álbum "River Of Paradise". Recentemente. Michael e eu gravamos um álbum para o mercado japonês chamado "Native Son" e frequentemente estamos gravando juntos e tocando ao vivo com David Foster. Infelizmente, Mark foi acometido pelo mal de Parkinson.

11 Você lançou dois álbuns, "Funkshui" (2004) e "Platinum" (2010), ambos excelentes e que apresentam uma variedade de estilos que evidenciam sua versatilidade. Quando comparados com todo o trabalho em estúdio que você fez ao longo dos anos, seus álbuns solo foram mais fáceis de criar/gravar?

John Robinson: O aspecto "mais fácil" se deve ao fato de que tive controle absoluto sobre tudo, além de ter meu próprio estúdio. Posso fazer o que quiser, mas gravar álbuns solo é muito mais difícil do que muita gente pensa. Há muito mais coisas sob sua responsabilidade. Além disso, há que se considerar o binômio "arte x mercado". É claro que todos querem um álbum de sucesso (em algum nível), mas meus dois primeiros álbuns foram um aprendizado. Tive mentores incríveis, como Quincy Jones e David Foster. Você precisa estar presente nos aspectos de composição, produção, vocalização, performance, aspectos legais, etc... . Tenho composto material para meu terceiro álbum e a direção dele ainda está sendo definida, mas terá muito 'groove' e algumas surpresas!

12 Em Fevereiro passado aconteceu a entrega dos Grammy que, em algum momento na história, era dado aos melhores na indústria da música. Como você analisa o cenário musical atualmente, e a relevância do Grammy como sendo (por enquanto) o mais importante prêmio da indústria?

John Robinson: Tenho sentimentos variados sobre o Grammy. Recebi um em 1983 por "Ain't Nobody", de Rufus And Chaka Khan. Mas acho que a maioria das canções vencedoras nos últimos anos não se comparam às do passado. Há uma parte em mim que vê muita gente sendo premiada por canções ruins. Alguém me dê uma ótima canção hoje, por favor!

John, gostaria de lhe agradecer muito pela oportunidade de falar contigo. Só posso lhe desejar uma longa carreira e ainda mais sucesso para você. As portas da AORWatchTower estão abertas à você...

John Robinson: Obrigado, Juliano. Eu gostaria de agradecer à cada um de vocês pelos anos em que me ouviram tocar. Mantenham a fé, o amor e o groove!!!

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