quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM BRIAN HOWE

O britânico Brian Howe deixou sua marca no universo dos bons sons quando assumiu a frente de uma das maiores bandas americanas da história do rock: a Bad Company. Com grandes álbuns e uma convivência bastante complicada dentro da banda, Howe se desligou da Bad Company, investiu em uma carreira solo e hoje vive de maneira mais tranquila, enquanto prepara sua despedida do cenário. E no meio de tudo isso, Howe gentilmente concordou em falar sobre sua carreira, com exclusividade para a AORWatchTower, em sua primeira entrevista para o Brasil.

Enjoy...

01 Acho que podemos dizer que sua porta de entrada foi com Ted Nugent, em 1984, quando ele lhe chamou para ser o vocalista no álbum "Penetrator". Como você conseguiu a vaga e quais são as suas lembranças daquela época?

Brian Howe: Eu estava em uma banda em Londres, tentando conseguir um contrato. Durante semanas, mandei muitas canções que havia escrito para a Atlantic Records, que sempre as recusou muito educadamente. Entretanto, em um dia qualquer, alguém na gravadora estava ouvindo meu material em alto volume em seu escritório e Ashley Howe (produtor de Ted Nugent na época e sem nenhum parentesco comigo) passou por ali e perguntou quem era o vocalista. De repente, recebi um convite para fazer uma audição para integrar a banda de um americano chamado Ted Nugent. Cheguei em New York e consegui a vaga porque, entre todos os candidatos, eu pedi menos dinheiro (risos)

02 Pouco tempo depois você estava na Bad Company, uma das mais respeitadas bandas da história do rock. Como foi seu caminho até chegar à banda?

Brian Howe: Bem, eu sou de Portsmouth, na Inglaterra. Eu tinha uma boa amizade com Kevin Jones, irmão de um tal Mick. Mick tocava em uma banda chamada Spooky Tooth e semos todos amantes de música, nos reunimos de vez em quando para tocar, Acho que Mick gostava do que eu fazia e dez anos depois ele me ofereceu a oportunidade de me juntar à Bad Cmpany.

03 O seu nome não era o único novo na banda. A nova formação da banda lançou "Fame And Fortune" em 1986 e, apesar de conter boas canções, o álbum não teve o desempenho esperado e muitos fãs ficaram revoltados com a sonoridade focada em teclados e sintetizadores que a Bad Company apresentou. A direção musical foi algo que a banda buscou ou que foi trazida pelo produtor Keith Olsen?

Brian Howe: O plano original era que deveríamos soar como o Mr. Mister. Mick Ralphs era fã da banda. Eu tinha algumas ideias que se encaixavam naquela proposta (mais ou menos, na verdade) e assim tivemos que trazer um tecladista.

O espetacular "Dangerous Age", lançado em 1988
04 Em 1988, a Bad Company lançou "Dangerous Age", álbum que resgatou as guitarras e também aquela sonoridade mais roqueira que sempre caracterizou a banda. Além disso, os vocais receberam mais atenção (especialmente os de apoio), uma caraterística recorrente nos álbuns produzidos por Terry Thomas. Ainda, ele se envolveu mais com a banda, sendo co-autor das canções e tocando e cantando no álbum todo. Teria sido esse o segredo do sucesso daquele trabalho?

Brian Howe: Nós tivemos uma reunião em Londres com Bud Prager (nosso empresário na época), durante a pré-produção do álbum, quando mostramos algumas canções. E elas não eram nada boas. Eu falei com Bud e lhe disse que precisávamos de uma mão pesada para apontar o caminho porque Mick queria escrever todas as canções e, se fosse daquele jeito, a banda chegaria logo ao fim. Bud disse que conhecia um cara chamado Terry Thomas, com quem eu gostaria de compôr, e então nos apresentou. Eu sabia que precisávamos deixar a sonoridade da banda mais pesada, nos livrando dos teclados e trazendo as guitarras novamente à linha de frente. A química com Terry foi incrível. Nós escrevíamos canções diariamente e aquelas que terminamos se tornaram "Dangerous Age".

05 E quando parecia que as coisas não poderiam ficar melhores, "Holy Water" foi lançado, em 1990. Um verdadeiro clássico, com interpretações irretocáveis, backing vocals envolventes, refrões poderosos e aquela produção cristalina que Terry Thomas faz como poucos. Desnecessário dizer que o álbum foi um tremendo sucesso e, até hoje, é mencionado como um dos melhores álbuns do fim da década de 80. Você diria que aquele trabalho é o melhor retrato de sua época na Bad Company?

Brian Howe: Não tenho certeza... sei que vendeu muitas cópias mas, honestamente, acho que todos os quatro álbuns que gravei com a banda têm qualidade.

06 E se "Holy Water" agradou os fãs, não tinha como errar com "Here Comes Trouble", lançado em 1992 e, uma vez mais, produzido por Terry Thomas. Tendo todos os melhores elementos de seu predecessor, o álbum não foi muito bem nas paradas. mas continha algumas das melhores canções que a Bad Company gravou com você (na minha humilde opinião). Quais as suas impressões sobre aquele álbum?

Bad Company, circa 1992: o guitarrista Mick Ralphs,
Brian Howe e o baterista Simon Kirke
Brian Howe: "Here Comes Trouble" foi gravado durante um período de problemas pessoais. A banda era uma piada. Mick e Simon estavam magoados porque a maioria das canções eram escritas por mim e Terry, mas eles não se preocupavam em escrever nada. E eu estava passando por um divórcio complicado e isso se refletiu nas canções, que são muito pessoais para mim.

07 Aquele seria seu último álbum de estúdio com a Bad Company. Em retrospectiva, como você vê todos eles? Há algum que você apontaria como sendo seu preferido?

Brian Howe: Acredito que todos os quatro álbuns cumpriram seus papéis. Eu amo cada um deles.

08 A Bad Company ainda gravaria mais um álbum, "What You See Is What You Get... Live". Aclamado pela crítica, o álbum trazia canções de todas as eras da banda, mas boatos dão conta de que quando você saiu deixou a Bad Company, em 1994, teria dito que a banda estava ficando desleixada no palco. Quais são as suas lembranças daquela tour?

Brian Howe: Foi uma longa tour. Como banda, não funcionávamos mais. Havia muito ressentimento e acredito que eu não soube lidar bem com aquilo tudo. No fim, fiquei tão frustrado que eu sabia que, ao final da tour, acabaria deixando a banda.

09 Deixar a banda não deve ter sido uma decisão fácil. Na época, você disse: "Chegamos a um ponto onde ninguém colaborava nas composições. Simplesmente, eu e Terry Thomas nos cansamos de fazer todo o trabalho e só recebermos ressentimentos e mágoas de Mick e Simon". Como foi que tudo aconteceu?

Brian Howe: É verdade, Mick Ralphs afirmou que suas canções estavam sendo ignoradas. E aquilo era uma tremenda bobagem porque, como vocalista, só quero cantar boas canções. Mick, simplesmente, não conseguia escrever uma miserável canção boa e não escreveu desde que saí da banda.

10 Pouco anos depois, mais precisamente em 1997, você lançou "Tangled In Blue" (relançado em 2003 com o nome "Touch"). Um álbum incrível e que passou batido por muita gente naquela época. Aquele álbum soa um pouco diferente do que você fazia com a Bad Company, mas não completamente. Você acha que aquele álbum representou um crescimento musical?

Brian Howe: "Tangled In Blue" foi outro álbum bastante pessoal para mim, cercado por decepções e tristeza. Eu queria mostrar que não era apenas um vocalista de rock e que podia interpretar canções com mais paixão e profundidade.

O excelente "Circus Bar", de 2010
11 Em 2010 você lançou "Circus Bar", um trabalho que resgatou suas características roqueiras. Com uma sonoridade mais contemporânea, o álbum retratava o seu momento pessoal como artista em perfeita harmonia com os melhores elementos da sua época com a Bad Company. Sem ser 100% classic rock e nem 100% pop (mas algo entre os dois extremos), o álbum é excelente. Como você vê aquele álbum hoje em dia? Ainda acho aquele álbum bastante contemporâneo...

Brian Howe: "Circus Bar" foi muito divertido de gravar. Brookes Paschal foi o produtor e co-autor do material e sabíamos que era a hora de investirmos em uma sonoridade mais moderna. As canções fluíam rapidamente e passamos muito tempo gravando e mixando o material. Acredito que o álbum me retratou perfeitamente naquela época.

12 Um ano depois, o EP "Emotions" foi lançado com uma sonoridade mais orgânica, mas com aquela veia roqueira tão conhecida. O que o levou a lançar mais material em um espaço de tempo tão curto? Aquelas canções foram compostas especialmente para o E.P. ou há alguma sobra de estúdio das sessões de "Circus Bar"?

Brian Howe: Eu nunca uso sobras de estúdio. Apenas terminamos as canções que nos parecem ser as melhores para o momento. Nada passa do tempo conosco.

13 Bem, vamos falar sobre o futuro. Há um novo álbum chegando com o nome de "Hot Tin Roof". Segundo você havia me dito, o álbum será lançado em cerca de três meses. O que mais você pode nos falar sobre o trabalho?

Brian Howe: "Hot Tin Roof" está demorando uma eternidade. Com baixo orçamento, tem sido difícil fazer tudo o que é necessário. Ainda não estou satisfeito com a mixagem, mas quando tudo estiver finalmente no ponto, será um dos meus melhores trabalho.

14 Você também me disse que esse será sue último álbum. Confesso que fui surpreendido pela notícia e tenho certeza que surpreenderá, igualmente, os leitores da casa. O que o levou à tal decisão?

Brian Howe em ação, em Abril passado
Brian Howe: Acredito que o custo para gravar um álbum no padrão que eu quero é proibitivo. E antes mesmo que o álbum esteja pronto você pode encontrá-lo para download gratuito em vários sites. Isso é arrasador porque, na pior das hipóteses, você objetiva recuperar seu investimento. Também acho que a coisa toda se tornou uma grande enganação. Quase qualquer um pode entrar em um estúdio e soar como um bom vocalista. Houve uma época em que era necessário aprender a cantar, aprender técnicas de microfone, aprender o básico.

Muitos álbuns têm a mesma sonoridade hoje em dia. Tudo do mesmo jeito. Não há mais alma ou qualquer outro sentimento na maioria dos novos álbuns. O microfone deveria ser usado como um telefone, como se você estivesse contando uma história para alguém, conversando com alguém que você nem conhece. O artista deveria baixar a guarda, mostrar seu lado mais fraco, seu lado mais forte. Deveria ser como um confessionário.

15 Imagino que você deverá fazer uma série de shows para promover o novo álbum. Você já considerou vir ao Brasil? Você tem muitos fãs por aqui...

Brian Howe: Até hoje, eu nunca fui convidado a ir ao Brasil. Eu adoraria...

Brian, foi um enorme prazer conversar contigo. Sou um fã de longa data de seu trabalho e me entristece saber que você está se desligando do cenário musical. Portanto, gostaria de agradecer pelo fantástico legado que você construiu ao longo dos anos. As portas da AORWatchTower estão sempre abertas a você. Obrigado, uma vez mais, pela atenção...

Brian Howe: Obrigado, Juliano. Eu ainda não me desligarei completamente do cenário, já que ainda farei alguns shows e tenho um outro projeto em mente, onde me sento em minha varanda e sou filmado cantando minhas canções favoritas, tudo ilustrado com imagens da minha família e, quem sabe, até receba alguns convidados. Veremos...

Eu lhe agradeço pelo apoio maravilhoso e espero vê-lo em breve no Brasil...

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