sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM LEIGH MATTY

O álbum de estréia da Romeo's Daughter é
considerado um clássico do AOR
Há cerca de 30 anos, o AOR vivia dias gloriosos e os grandes lançamentos eram abundantes. Alguns desses lançamentos se tornaram clássicos e, entre eles, está o primeiro álbum dos britânicos da Romeo's Daughter, banda que se encontra em franca atividade (graças aos deuses) e que estava destinada a se tornar um dos grandes nomes do estilo. Mas a história não aconteceu como se previa.

Mesmo tendo um tracklist fantástico, a ilustre colaboração de um dos maiores nomes do AOR daquela época e um produtor legendário, o álbum "Romeo's Daughter" foi engolido quase sem deixar vestígios.

Poucos anos mais tarde, seu valor começou a ser revisto e há anos aquele trabalho é apontado como um dos melhores da sua época e uma referência no AOR.

Com tanta coisa cercando aquele álbum, entrei em contato com a sempre simpática Leigh Matty que prontamente concordou em conversar sobre o trabalho que lançou a Romeo's Daughter no universo dos bons sons.

Enjoy...

01 Neste ano, o álbum clássico da Romeo's Daughter completa 30 anos (o tempo passou rápido!) e poucas bandas tiveram a sorte de ter seu primeiro trabalho produzido por um grande nome, mas vocês tiveram dois deles. O primeiro foi John Parr, um dos maiores nomes da década de 80. Como ele se envolveu com o projeto?

Leigh Matty: Nós conhecemos John em um evento social através de nossa empresária naquela época, Olga Lange, e tudo se desenvolveu a partir dali. Ele estava em um intervalo entre álbuns e tinha tempo disponível para trabalhar conosco, o que nos deixou muito felizes!

02 Ao que me consta, vocês gravaram quatro canções com Parr e de todas elas apenas "I Cry Myself To Sleep At Night" foi incluída no álbum. O que você pode nos dizer sobre as outras três?

Leigh Matty: "I Cry Myself To Sleep At Night" surgiu a partir de outra canção que gravamos com John, chamada "Dreams". "Wild Child" também foi criada a partir de outra demo (não consigo me lembrar seu nome!). Nós retrabalhamos ambas as canções mais tarde com Mutt e elas se transformaram nas canções que acabaram no álbum.

03 Aparentemente, Parr era muito disciplinado, esforçado e exigia sempre o melhor da banda enquanto gravava as demos. E, pelo jeito, valeu a pena...

Leigh Matty: Na verdade, era muito fácil trabalhar com John. Nunca havíamos trabalhado com alguém famoso e não sabíamos o que esperar. Ele era tremendamente famoso naquela época, já que "St. Elmo's Fire" havia sido lançada alguns anos antes de nos conhecermos, e ficamos surpresos ao saber que ele queria fazer parte do nosso álbum (agradecidamente surpresos!). Ele foi muito paciente conosco e aprendemos muita coisa com ele e adoraríamos ter trabalhado juntos mais vezes, mas não era para ser assim.

04 E aquelas demos gravadas por John Parr trouxeram Mutt Lange. A história é bem conhecida (eu acho), mas já que sempre há alguém que não a ouviu, por favor Leigh, conte-nos como tudo aconteceu...

Leigh Matty: Nossa primeira empresária era uma senhora chamada Olga Lange, que havia sido casada com Mutt Lange no início dos anos 80. Ele era o mais ocupado (e provavelmente um dos mais bem sucedidos) produtor daquela década e nem em nossos sonhos mais malucos poderíamos imaginar que ele teria tempo e vontade de trabalhar conosco. Mas ele ouviu uma demo que havíamos gravado chamada "Stay With Me Tonight" e gostou, o que o levou a trabalhar em algumas canções.. Aquelas canções se transformaram em sete no período de um ano, sendo que John Parr gravou outras três. Naquela época, não imaginávamos como seria grande o impacto em nossa sonoridade e como seria precioso para nós termos trabalhado com eles. Éramos muito jovens e inexperientes no mundo da música e, assim sendo, tentamos absorver o máximo possível. Quando olho para trás, vejo como tivemos sorte em ter trabalhado com caras tão incrivelmente talentosos.

05 Mutt Lange é conhecido por levar bandas e artistas ao limite, sempre com resultados fantásticos. Quais as suas lembranças de ter trabalhado com ele?

Leigh Matty: Sempre achei que Mutt era rígido, mas muito paciente e prestativo. Mas deve ter sido estranho para ele trabalhar com músicos tão desconhecidos e inexperientes como nós três éramos, mas ele foi muito gentil e nos ensinou muito. Nós até nos mudamos para sua casa por um tempo, para gravarmos em seu próprio estúdio. Ele tinha uma ética de trabalho maravilhosa, que significava começar a trabalhar toas as manhãs por volta das 10 horas até tarde da noite, para que não houvesse nada do 'estilo de vida rock and roll' envolvido. Seu tempo era precioso, já que havia uma série de artistas querendo trabalhar com ele quando o trabalho conosco terminasse, então tudo foi feito muito rapidamente.

06 Rumores dão conta de que Mutt exige 110% dos vocalitas com quem trabalha. Como as coisas aconteceram com você? Essa reputação é verdadeira?

Leigh Matty: Ele tinha a reputação de não gostar de trabalhar com vocalistas mulheres mas eu nunca senti que ele não havia reconhecido o quanto eu me esforcei para conseguir o vocal que ele esperava de mim. Às vezes, eu estava exausta depois de passar horas dentro da cabine de gravação, mas tudo valeu a pena. Ele é um ótimo vocalista e sempre sabia exatamente o que queria da minha performance. Eu lembro ter sido uma experiência positiva para mim (e ele nunca me fez chorar!).

07 Quão diferente foi trabalhar com John Parr e Mutt Lange?

Leigh Matty: Creio que John era mais divertido e tranquilo que Mutt. Nós costumávamos rir muito e John era muito divertido, se me lembro bem. Eu acho que ficávamos mais a vontade trabalhando com ele do que com Mutt, mas ambos foram fantásticos, cada um a sua maneira.

08 Ambos trabalharam juntos em duas canções:"I Like What I See" e "Don't Break My Heart". Deve ter sido educativo vê-los trabalhando em conjunto...

Craig Joiner, Leigh Matty e Toni Mittman: o núcleo
da Romeo's Daughter, circa 1988
Leigh Matty: John e Mutt trabalharam juntos em "Dont Break My Heart", apesar de a demo ter sido gravada originalmente com Mutt. Nós gravamos "Inside Out", "Colour You A Smile" e "I Like What I See" com John, apesar de Mutt ter colaborado com backing vocals naquelas canções.

09 Deve ter sido intimidador trabalhar com um sujeito como Mutt Lange. Não apenas ele produziu o álbum, mas também se envolveu com as composições. Como foi adaptar o seu estilo de compôr ao dele?

Leigh Matty: Foi muito intimidador, mas também incrivelmente inspirador, já que estávamos todos iniciando na carreira. Ele nunca nos deixou desconfortáveis e tudo o que aprendemos com ele permanece conosco até hoje.

10. E até onde sei a banda não tinha um nome mesmo com o álbum já pronto e foi Mutt Lange quem os batizou Romeo's Daughter, nome tirado de uma linha da canção "I Cry Myself To Sleep At Night". Como foi aceitação do nome por vocês?

Leigh Matty: A escolha do nosso nome foi muito difícil. Ninguém conseguia decidir como deveríamos nos chamar e, de repente, o álbum estava sendo masterizado e a arte precisava começar a ser trabalhada e tínhamos dois dias para decidir! Acredito que Mutt sugerir Romeo's Daughter foi uma bênção naquele momento. Nós nós apegamos ao nome. É um nome incomum e tenho muito orgulho dele.

11 Então, havia esse ótimo álbum de AOR, com canções fantásticas e produção impecável, ingredientes de uma receita certa para o sucesso. Mas sabemos que não foi exatamente assim que tudo aconteceu. Onde as coisas deram errado?

Leigh Matty: Bem, é como dizem: 'timing é tudo!' Basicamente, perdemos o trem por um ano, creio eu. Na época em que o álbum estava pronto para ser lançado em '88, a música que estava sendo tocada no rádio tinha mudado drasticamente e o mundo todo se preparava para loucura que seria o grunge. Nós realmente lutamos para termos nossas canções tocadas por qualquer das principais rádios aqui no Reino Unido e fomos melhor recebidos nos Estados Unidos e resto da Europa, mas mesmo lá, as coisas estavam mudando rápido. Fomos mal aconselhados pela nossa empresária e pela gravadora para que não fizéssemos uma tour naqueles países, então nunca construímos um público em shows grande o suficiente para que pudéssemos crescer como deveríamos. Se tivéssemos a chance de fazer tudo outra vez, as coisas seriam muito diferentes.

12 Em 2007, falando sobre o álbum, Craig Joiner disse que algumas pessoas não entenderam que tipo de banda a Romeo's Daughter era, sendo classificada como "muito leve para ser rock e muito pesada para ser pop". Você concorda que a banda não foi devidamente promovida?

Leigh Matty: Sempre tivemos a impressão que não fomos propriamente aceitos como uma banda de rock e que éramos 'rock demais' para sermos considerados pop, então acabamos presos entre os dois estilos, o que foi muito ruim para nós. E não era muito comum uma banda ter uma vocalista naquela época, especialmente no Reino Unido, então acredito que também éramos vistos como uma novidade. Ainda, nossa gravadora na época achava que, pelo simples fato de termos Parr e Mutt envolvidos, seríamos um grande sucesso e por isso não nos promoveram tanto quanto outras bandas de seu cast.

13 Bem, com o passar dos anos o álbum provou ter uma excelente coleção de canções AOR, tão verdade que três delas foram regravadas no início dos anos 90: o Heart escolheu "Wild Child", já Eddie Money ficou com "Heaven In The Backseat", enquanto Bonnie Tyler e Chrissy Steele deram novas interpretações a "I Cry Myself To Sleep At Night". Não ficou um gosto amargo ao ver outros artistas terem sucesso com canções gravadas por vocês há pouco tempo?

Leigh Matty: Sim e não! Foi uma grande honra ter nossas canções regravadas por aqueles grandes artistas e a versão de "Wild Child" é a melhor delas para mim. Nós até assistimos o Heart tocá-la em Wembley no início dos anos 90 e foi surreal ouvi-los tocar sua versão daquela canção. Nós ainda encerramos nossos shows com ela e eu sempre menciono que é nossa canção e não do Heart (risos). É claro que teria sido ótimo se nós tivéssemos tido o mesmo sucesso que eles, mas chegamos perto!

14 E falando sobre canções, há muito material inédito ou inacabado das sessões de gravação do primeiro álbum?

Leigh Matty: Há muito material inédito e inacabado daquela época e algumas daquelas canções foram usadas no nosso segundo álbum. Mas nós sempre buscamos olhar para frente e usamos material novo em nossos dois trabalhos mais recentes, "Rapture" e "Spin".

15 Finalmente, em retrospecto, como você vê "Romeo's Daughter" hoje, 30 anos depois? E como você vê a banda no atual cenário AOR?

Leigh Matty em ação com a Romeo's Daughter
em 2015, durante o HRH AOR Festival
Leigh Matty: Eu olho para o passado com orgulho e amor. Sei que nunca atingimos as alturas que o álbum talvez merecesse, mas isso nunca me incomodou. Eu sou muito grata por ter estado no lugar certo e na hora certa para conhecer Craig e Tony e por ter tido a oportunidade de ter gravado um álbum que acabou sendo tão querido por tanta gente.Aquele trabalho definiu minha vida e tenho muito orgulho de ter sido parte dele.

Leigh, foi uma honra conversar novamente contigo. Desejo à você e à banda todo o sucesso que vocês tanto merecem e que tenhamos muito material da Romeo's Daughter chegando no futuro. As portas da AORWatchTower estão sempre abertas à vocês...

Leigh Matty: Muito obrigado, Juliano, pelo convite para falar sobre o álbum e pelo seu apoio contínuo ao longo dos anos. É sempre um prazer falar com a AORWatchTower.

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