Quando as luzes do Estádio do Morumbi se apagaram nesta sexta-feira (27) poucos minutos depois das 20h30, as arquibancadas e pistas foram tomadas por gritos e principalmente pelas luzes vermelhas emitidas dos chifres luminosos vendidos por R$ 5 (antes do show) ou R$ 10 (durante a apresentação). Uma animação exibida nos telões indicava que em poucos segundos o AC/DC assumiria o palco com sua nova turnê, a Black Ice Tour, apresentada para 65 mil pessoas na capital paulista.
Liderados pelo performático guitarrista Angus Young, os veteranos roqueiros conduziram uma verdadeira aula de rock 'n' roll durante as duas horas de apresentação. Em alto e bom som, o quinteto fez uma releitura de sua carreira com os hits mais marcantes desde a fundação do grupo em 1973 até o elogiado Black Ice, de 2008.
A introdução da aula dos australianos veio com uma música nova, Black Ice, que já estava na ponta da língua dos fãs. Logo em seguida, dois clássicos já fizeram o público pular e cantar sem parar. Hell Ain't a Bad Place to Be e Back in Black, esta última um dos maiores êxitos dos australianos, foram tocadas para o delírio dos seguidores do grupo.
Além da introdução visual, o grupo mostrou que a cartilha do rock está em dia. Ao fim da vinheta, os telões que se abrem revelam a locomotiva, que, mesmo sendo cenográfica, não para de soltar fumaça em um posicionamento que "invade" o palco do grupo. O show seguiu então na mesma infalível fórmula intercalando canções do novo disco, como Big Jack e War Machine, mas sem esquecer-se de hinos do rock como Thundestruck e Hells Bells.
Ajudando o mestre Angus Young em sua aula, o vocalista Brian Johnson ficou responsável pelo carisma. Ao falar com o público pela primeira vez, soltou uma pérola e caiu na graça do público. "Nós não falamos bem 'brasileiro', mas falamos bem o rock n roll", disse. Em um palco que falava por si só, os integrantes do AC/DC seguiram dominando a sala de aula. Uma passarela com chão de vidro, que tinha uma câmera na parte debaixo, serviu de caminho para Angus Young fazer seus clássicos passes e tocar guitarra no meio da pista.
O quesito dos efeitos especiais ganhou destaque principalmente nas previsíveis, mas igualmente sensacionais, coreografias e efeitos reservados para os hits. Em Hells Bells, lentamente um gigante sino desce no meio do palco com o logo da banda em sua lateral. Da mesma passarela, surge Brian Johnson, longe de aparentar 62 anos, que dá um pique e agarra a corda do sino fazendo soar suas badaladas.
Para não parecer que só os clássicos ganharam produções especiais, as canções novas foram acompanhadas por boas animações sincronizadas nos quatro telões do palco. Em War Machine, por exemplo, imagens mostram um avião de guerra em um bombardeio de guitarras e outras cenas ligadas aos conflitos em terra, mar ou no ar.
Embora os efeitos visuais roubem a cena do espetáculo, a parte teatral também não fica para trás. Em outro momento já coreografado, mas mesmo assim surpreendente, Angus Young abandona sua guitarra durante The Jack. Com uma base de blues, o músico começa a se despir no palco sem pressa alguma, tirando uma peça por vez calmamente. Para finalizar, o guitarrista abaixa sua bermuda e mostra uma cueca com o logo do AC/DC, embora em épocas anteriores preferisse mostrar suas nádegas sem problema.
Já a canção TNT, um dos maiores sucessos do grupo, dispensa qualquer tipo de efeito e mostra o poder de rock de arena do AC/DC. Acompanhados pelas poderosas guitarras dos irmãos Young, o público soltou o tradicional "oi, oi, oi" alto o suficiente para ecoar no lotado Estádio do Morumbi. Mesmo assim, para não deixar essa lição de lado, colunas de fogo se encarregam de fechar a execução da música.
Para finalizar esta primeira etapa do show, o grupo encerra com Whole Lotta Rosie, com uma gigante boneca inflável que surge montada no trem do AC/DC, e Let There Be Rock, que usou toda a parafernália de iluminação possível trazida pela banda sendo impressionante mesmo para nossa época de apagão. Em um momento solo, Angus Young, que lidera a banda durante todo o show, mostra de fato sua importância e destaque no grupo com um longo solo de guitarra.
Com a inseparável Gibson SG, o guitarrista fez um verdadeiro portfólio musical usando toda sua técnica com riffs e solos variados com feeling e velocidade.Nesta parte da aula, Angus mostra que a pose também é vital para um roqueiro. A todo momento cobrando gritos do público, o músico seguiu para o palco no fim da passarela, montado no meio da pista. Lá, sob uma chuva de papel picado, o guitarrista seguiu incansável solando em uma plataforma erguida a mais de dez metros de altura.
Em um breve intervalo cedido pelos professores do AC/DC, os fãs se mostram inquietos e, ao contrário dos tempos de escola, ansiosos pelo retorno de seus mestres. Com gritos de "olê, olê, olê, olê, AC/DC", os seguidores da banda cobraram a volta do grupo, mesmo sabendo que o setlist da atual turnê seria seguido sem improvisos em São Paulo.
Para o fim, o AC/DC guarda mais dois hinos nesta vasta seleção que possuem após 36 anos de carreira: Highway to Hell e For Those About to Rock (We Salute You). Nesta última o único recurso que ainda não havia sido usado no palco surge. Canhões aparecem nas beiradas e no centro do palco. Sincronizados com a música, eles efetuam disparos ensurdecedores para o delírio do público.
Com o apagar das luzes do palco, o AC/DC ainda havia preparado mais uma surpresa. "Como bom show de rock", como definiu um fã que deixava a pista, uma queima de fogos de artifício marcou a despedida dos veteranos de São Paulo em uma aula de duas horas que não deve deixar ninguém de recuperação. Confira o setlist:
Bis
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